Capa dos Livros


Pandemônio


Prólogo - Tinha que acontecer com a Morgana


    Morgana estava terminando sua aula naquele dia, como em todos os outros, o dia estava lindo, mas ela estava cansada, terminava de falar sobre os campos de força que protegiam todas as colônias das fadas quando um de seus alunos levantou a mão.

- Pode perguntar – disse ela o mais amável possível.

- Por que todos nós vivemos presos dentro das colônias? Já que nós podemos conjurar coisas não é mais fácil montar uma equipe e limpar o mundo das fadas?

    Morgana sabia que aquela faixa etária era a mais difícil os poderes das crianças estavam se manifestando e eles queriam provar a todos que eram capazes de enfrentar as fadas e serem os heróis assim como um dia foram os fundadores.

- Não é bem assim – começou a explicar – as fadas são seres surpreendentes de poder inimaginável, um conjurador sozinho não é capaz de enfrenta-la e mesmo uma equipe demoraria muito para enfrentar uma fada adulta totalmente desperta, sem falar que o ar as águas e as plantas ainda estão corrompidos por causa da radiação da grande guerra da evolução. – Quando a radiação estava tomando conta do mundo e os primeiros poderes se revelaram, os Mestres Conjuradores levantaram as colônias para nos proteger das fadas, pois até eles sabiam que tudo no mundo tem um inimigo natural e o dos Conjuradores são as fadas.

- Se as fadas são inimigas naturais dos conjuradores, quem são os inimigos naturais das fadas? – Continuou o aluno.

    Nesse momento o sinal tocou para que todos fossem embora.

- Vamos continuar nossa conversa amanhã tudo bem? – Os alunos começaram a se levantar – Não se esqueçam de ler o texto sobre “A Evolução da Conjuração”, ele será à base das nossas próximas conversas.

    Morgana chegou a sua habitação começou a se preparar para os afazeres da noite, tinha coisas para montar para a próxima e sua reserva mágica não seria o suficiente.

    Morgana era uma conjuradora de uma família importante das Dez Colônias, mas nunca se casou e depois que seus pais tiveram sua irmã mais nova, ela meio que ficou esquecida pela família. O que ela adorava, pois assim podia se dedicar mais ao que gostava de fazer. Formar novos conjuradores.

    Era alta e esguia, com a pele cor de chocolate, olhos castanhos e um cabelo preto encaracolado bem cheio, era uma conjuradora bonita, uma conjuradora bonita com quase trinta anos. Mas mesmo assim ela não via necessidade de ter um companheiro, toda a companhia da qual ela necessitava era proveniente de seu gato-leão Saat.

    Naquela noite ela recebeu uma projeção holográfica de sua mãe, que possibilitava a conversa em tempo real, elas passaram alguns minutos conversando, mas logo teve que desligar o seu cubo holográfico, se não, poderia se atrasar com os deveres do Centro de Formação do dia seguinte.

    Depois de tomar a decisão de não se envolver com assuntos políticos como seu pai, que era o Primeiro Ministro de Runesfera, sua mãe era a única pessoa com quem tinha um contato mais próximo.

    Por causa das inúmeras discussões com seu pai envolvendo o bem estar da família na politica e como, por ser a mais velha, ela deveria se comportar na sociedade, Morgana saiu de casa para morar na Ala C e ensinar os mais jovens.

    Seu pai decretou que ela era a vergonha da família, mas ela não tinha nenhum interesse em como funcionava o método de governo das dez colônias, para ela tudo estava bem se funcionasse direito, e funcionava, portanto estaria feliz em deixar a herança do ministério com sua irmã mais nova.

    Sentia-se feliz com a vida que levava, estava morando em uma das melhores colônias de toda a Nova Terra, tinha escolhido seu próprio emprego e não se preocupava com processos políticos nem com as preocupaçõe que sua irmã trazia.

    Runesfera é o melhor lugar para se viver quando se dedica a ensinar. Essa é a cidade da magia. Na Academia de azaração são ensinados os conhecimentos arcanos. No centro de Runesfera se localiza o núcleo gerador de campo de força que os ajudava a se proteger das fadas e outros animais selvagens. Era um prédio enorme, tão alto que dava para ser visto de qualquer lugar da colônia em que estivesse.

    A colônia em si é formada por anéis, que circundam toda a extensão da colônia; Nos anéis Sul e Oeste ou Ala D, fica a população massiva de Runesfera é o lugar onde Morgana reside, no anel Leste ou Ala C fica o centro de distribuição de suprimentos, no anel Norte ou Ala A, se localizam as mansões dos ministros e a casa do mestre conjurador, ele que possui uma residência fixa em cada uma das oito colônias e sua mansão principal em Juno. Morgana sempre achou que dividir a população em anéis era meio injusto, mas não se envolveria com a politica de Runesfera, seu pai era primeiro ministro, então ele que achasse o melhor modo de alocar todo mundo, quando criança, ela via como era complicado tomar conta de tudo.

    Morgana recolheu o lixo de casa e foi colocar do lado de fora, quando Saat saiu correndo para a rua, ela sabia que se seu animal fosse pego pela patrulha de animais ele seria levado para o abrigo e ela teria que pagar os créditos que o governo solicitava para poder soltá-lo, e seus créditos já estavam bem baixos para aquele mês, então ela decidiu ir atrás dele.

    Mesmo sabendo que era contra as regras do toque de recolher, Morgana saiu em direção ao centro da Ala C, ela percebeu que uma das vertentes do campo de força estava apagada. O protocolo pede para que se algum morador vir ou ficar sabendo de algo fora do comum imediatamente deve informar ao CTCE, Centro de Tratativas de Casos Extraordinários.

– Maldito gato, quando o encontrar, vou matá-lo.

    Ela se dirigiu ao posto de comando mais próximo, e viu que ele estava vazio, é provável que alguém já esteja verificando o que aconteceu com a vertente.  Morgana estava se preparando para voltar à sua busca por Saat, quando ouviu um barulho vindo de um dos becos que estava próximo dela. Quando foi verificar pensando ser o seu gato, ou algum adolescente que estava descumprindo o toque de recolher, ela viu algo que fez o seu sangue gelar.

Uma fada. Pensou colocando a mão na boca. Em toda a sua vida, Morgana nunca tinha visto uma fada, mas lia muito sobre elas, sendo uma conjuradora de ensino, era sua obrigação saber das coisas, e via as imagens gravadas nos cubos de ensino, mas nunca conheceu uma pessoa que tenha confrontado uma e sobrevivido.

    Fadas eram criaturas selvagens, muito cubos falavam que elas eram quase demoníacas, aquela fada tinha o corpo encoberto por um trapo com capuz o que dificultava a visão de seu rosto, e ela se dirigia lentamente pelas ruas, vasculhando os lixos das casas, possivelmente procurando restos de comida.

    Morgana continuou seguindo a fada de longe, precisava fazer alguma coisa para o bem do povo de Runesfera nem que para isso infligisse a maior de todas as regras, conjurar magias não autorizadas pelo governo.

    Morgana viu a fada atravessar os portões da Ala B e logo em seguida da Ala A e se dirigir até o núcleo de proteção da colônia, a fada era rápida e ela teve que se esforçar para acompanhá-la, o núcleo de proteção era o lugar onde os campos de força eram acionados. Tem que haver uma explicação para tudo isso. Ela continuou seguindo a fada de longe e viu que ela entrou no prédio onde ficava localizado o núcleo gerador de campo de força, quando chegou lá, estranhamente a entrada estava desprotegida e trancada. Mas como essa maldita conseguiu entrar aí?

    Morgana deu a volta no prédio e viu que uma das janelas estava aberta, Não acredito que vou fazer isso, pensou ela, conjurou uma magia de impulso e entrou pela janela aberta em um pulo.

    Lá dentro ela viu a fada destruindo os painéis de comando, e pelos monitores viu que aos poucos uma a uma das vertentes do campo de força iam se apagando. Sem pensar Morgana desceu as escadas e conjurou uma bola de fogo que bateu em cheio nas costas da fada, que se virou e veio com tudo para cima de Morgana, a fada atacou com as garras e Morgana conjurou um campo de força e empurrou a fada um pouco mais para longe. A fada alçou voo e cuspiu uma espécie de musgo ácido, Morgana esquivou.

    Depois do que pareceu uma eternidade, Morgana não aguentava mais atacar e desviar da fada, se escondeu e começou a conjurar sua magia. Enquanto a fada procurava por Morgana, ela se concentrava no ritual. Nunca tinha feito isso antes e em seu intimo ela estava com medo, parte por que era ilegal, parte por estar enfrentando uma fada e parte por que se algo desse errado ela poderia morrer e não tinha certeza se sua reserva mágica era suficiente para conjurar uma magia daquele porte. Morgana estava quebrando um tabu.

    Os tabus eram rituais mágicos proibidos pelo governo, como reviver uma pessoa, tentar criar uma pessoa do nada ou conjurar magicas destrutivas, a lista de tabus era longa, mas como tudo, a maioria delas era escondida dos povos, para não criar a curiosidade.

    Neste caso em especifico o tabu que Morgana estava quebrando era conjurar forças de outra realidade, esse era um ritual muito perigoso, pois não teria como ela escolher quem viria dessa nova realidade e isso poderia desencadear um processo de destruição em massa.

    O tempo em sua volta começou a ficar escuro e mais quente, enquanto falava as palavras mentalmente ela percebeu que uma fresta surgia no teto do prédio e algo tentava sair dele, está funcionando, Morgana agora estava mais animada do que amedrontada, quando a fresta se abriu por completo o ar lá dentro era quente e tinha cheiro forte de coisa morta, fogo liquido pingava das bordas da abertura e correntes saíram em direção ao chão batendo em tudo o que estava pela frente, até que encontraram a fada. As correntes se fecharam em seus braços e corpo, Morgana viu que onde as correntes apertavam a fada começava a queimar. Um vento forte começou a soprar dentro do prédio em direção a fada e Morgana viu que ela começava a brilhar agora, ela começou a entrar em combustão, mas tudo agora estava sendo sugado para ela, inclusive Morgana a fada começou a implodir, o brilho da fada ficou negro e ela explodiu. Morgana só teve tempo de conjurar um campo de força para que ela ficasse dentro, quando saiu ela percebeu que o encanto tinha se desfeito e a fada tinha explodido levando o núcleo gerador de campo de força, assim como o prédio junto.

    Todas as vertentes apagaram e a colônia agora estava sem o campo de foça noturno, Morgana só teve um momento para olhar para o céu e por um breve momento ela viu que ele estava cheio de estrelas.

– Mas o que diabos aconteceu aqui? – Gritava um homem que Morgana nunca viu na vida.

    Ela saiu de seu campo de força e tentou se recompor para explicar o que tinha acontecido.

– Como é seu nome? – Perguntou o homem.

– É que uma fada entrou na colônia e eu lutei com ela... O homem riu

– Eu perguntei seu nome civil.

– É Morgana Senhor.

– Pois bem. Morgana você esta presa por quebrar um  tabu, desobedecer ao toque de recolher e será julgada por terrorismo contra a colônia Runesfera e contra o Governo.

    Enquanto o homem falava Saat apareceu do nada e se enroscou nas pernas de Morgana.

– Esse bicho é seu? - perguntou o homem.

– Sim - respondeu Morgana rendida.

– Então vou acrescentar que você deixou seu gato leão andar livre pelas ruas mesmo com o a regra de manter animais presos.

    Morgana olhou para o seu gato e a única coisa que veio em sua mente foi "Maldito".




Capitulo 1 - Prisão, exilio e um gosto por maçãs


    Uma semana se passou com Morgana presa, ela descobriu que não havia nenhum registro nas câmeras de segurança de toda a colônia, em nenhum lugar aparecia imagens de fadas, só Morgana andando de forma suspeita e destruindo todo o CTCE, as imagens internas foram perdidas por causa do ritual que Morgana fez, então era a sua palavra contra as gravações e a palavra do governo.

    No terceiro ou quarto dia de prisão seu pai lhe fez uma única visita e veio com de sua irmã Úrsula, apenas para dizer que ela era a vergonha da família Vendrigo e que esse ato terrorista poderia causar grande estrago na família, ele até poderia perder seu cargo de Ministro.

    Em todo o tempo, Úrsula nada falava, nem precisava seu olhar de soberba já falava por si só.

    Sua mãe por outro lado foi visitá-la todos os dias, levava comida e roupas limpas.

– Minha filha. Acho que as noticias não são tão boas.

– Depois do que aconteceu nada mais me impressiona.

– Você perdeu o seu emprego como conjuradora de ensino e o governo confiscou a sua habitação. Eles disseram que isso era para verificar se você tinha planos escritos em algum lugar ou se estava tramando com cumplices, eu entrei na sua habitação e pude pegar poucas coisas como as roupas que te trago.

- Você se arriscou mãe – falou Morgana com os olhos marejados.

- É o mínimo que eu posso fazer, sou sua mãe e acredito em você, mesmo que seu pai diga o contrário, mas eu vou falar com ele para saber se podemos  usar nossa influência com o Mestre Conjurador para uma pena mais leve, o fato dele ser Ministro tem de servir para alguma coisa.

– Não mãe. Não faça isso – respondeu Morgana já com lágrimas nos olhos – da última vez que ele esteve aqui, deixou bem claro que não iria ajudar em nada.

    O dia antes do julgamento Morgana não pode receber visitas de seus familiares ou amigos, não que ela tivesse muitos amigos, mas sentiu falta das conversas que teve com sua mãe nos dias que passaram, ela ajudava a deixar o fardo mais leve.

    Morgana não entendia como sua vida teria tomado aquele rumo, ela que não queria se meter em encrencas, ainda mais com o governo e agora estava prestes a ser julgada por uma coisa que, sim em termos era culpa dela, mas por outro lado se os conjuradores protetores estivessem em seu posto nada disso estaria acontecido. Mas agora não tinha nada que Morgana pudesse fazer a não ser esperar.

    Ela pediu para ver algum cubo histórico, mas lhe foi negado, então se deitou e tentou dormir.

- Ei Conjuradora – falou um protetor aproximando-se de sua sala, Morgana olhou para as grades. – Acho que você não se safa dessa, nem mesmo sendo a filha do Primeiro Ministro. Estão falando ate em execução.

    Mesmo em meio à pressão psicológica que os protetores tentavam fazer a ela, aquela informação a pegou de surpresa. Execução só era sentenciada aos conjuradores que causavam grandes danos a paz das dez colônias e mesmo com o acidente do CTCE ela não queria acreditar que o Mestre Conjurador poderia ser capaz de sentenciá-la a morte. O único conjurador que teve a punição magna decretada foi Johen pelo incidente com a colônia 00. Mas Morgana nada respondeu.

    Morgana soube logo quando o Mestre Conjurador chegou, o alvoroço era visível e ela escutava as falas que vinham de fora do prédio onde estava detida. Logo ela foi escoltada para o salão da mansão central uma grande comitiva a esperava assim como sua mãe, pai e irmã.

– Morgana Vendrigo – falava o Mestre conjurador – como você não pode se defender mediante as acusações que estão sendo feitas e o modo como tudo aconteceu, eu tenho que dar meu veredito. Mesmo sendo a filha do Primeiro Ministro de Runesfera, você não poderá sair impune e para manter a ordem de nossa vivência, você será condenada há passar um ano no exílio, será enviada assim que os primeiros raios de sol aparecer e terá que viver pelos próximos doze meses em Pandemônio, se conseguir sobreviver ate lá, poderá voltar para sua habitação e sua antiga vida, quando seu período de exílio passar enviaremos conjuradores rastreadores para buscá-la.

    Morgana nem teve tempo de ao menos tentar contar o seu lado da história, tudo já havia sido decidido antes mesmo dela chegar ali, mas por incrível que tudo pode parecer, ela estava calma, olhou para a multidão e conseguiu distinguir rostos amigáveis a sua dor, sua mãe estava em prantos e enxugava as lágrimas com a manga da camisa, seu pai olhava para ela indiferente, sua visão era gélida e sem vida, mas o que assustou Morgana foi como Úrsula a olhava, era um deleite tímido, mas cínico, parecia que ela gostava de tudo aquilo que estava acontecendo com a irmã.

    É certo que nem sempre elas se davam bem e a maioria das brigas que ela tinha com Úrsula eram porque Morgana se recusava a obedecer ao seu pai e estudar para tomar o posto de Ministra quando a hora chegasse, Morgana havia trocado uma vida de luxo por uma habitação simples e um bom casamento por aulas de magia e Úrsula não conseguia perdoar a irmã por causa disso. Morgana não pôde nem se despedir de sua família, foi escoltada de volta para sua sala e lá passou por alguns exames e ganhou sua tatuagem. Uma marca de exilio que mesmo quando ela voltasse a sua antiga vida todos saberiam que ela foi condenada, mas ao menos também saberiam que ela havia pagado sua divida com o governo.

    Antes mesmo de o dia raiar Morgana já estava de pé, não conseguiu dormir, pois sabia o que estava por vir, assim que os primeiros raios de sol irromperam no horizonte Morgana já estava caminhando com dois protetores, dessa vez ninguém estava autorizado a ir com ela, pois assim que os portões fossem abertos não era seguro e ninguém sabia o que poderia acontecer, poderia haver fadas ou animais selvagens e tudo o que o governo mais prezava era a segurança de seu povo.

    Quando finalmente Morgana chegou aos grandes portões de ferro, ela ouviu um grito ao longe, quando se virou, viu sua mãe correndo em sua direção segurando uma bolsa contra o peito. Morgana parou de andar.

– Você tem que ir – disse um dos protetores empurrando-a.

– Por favor – pediu Morgana – minha mãe – e apontou para a mulher que vinha correndo.

    Sua mãe chegou e entregou-lhe uma bolsa.

– Ai tem algumas coisas que você vai precisar claro que não vai durar tanto tempo – falou chorando – Mas um ano passam rápido e você é uma menina forte e corajosa e sei que você vai se sair bem lá fora. – dizia ela acariciando os cabelos da filha e afagando seu rosto.

    Morgana finalmente se entregou as lágrimas, ela tinha que ser forte, mas dessa vez não tinha ninguém olhando e sua mãe estava ali.

– Estou com medo – falou.

– Eu sei querida, mas não há nada que eu possa fazer. Eu juro que tentei, tentei intervir direto com o Mestre Conjurador, mas ele me disse que isso deveria acontecer para que a paz nas colônias pudesse continuar intacta.

– Ou seja – falou Morgana ainda com lágrimas em cascata – estou servindo de exemplo para que o governo mostre seu poder.

    Morgana abraçou sua mãe e ali permaneceram durante alguns minutos com Morgana molhando o ombro de sua mãe, ate que um dos protetores as separou.

    Morgana abriu a bolsa que sua mãe havia lhe dado e viu as coisas que tinham dentro; entre elas um vestido e um par de roupas mais leves, calça e camisa, além de comida e ficou agradecida por sua mãe ter pensado nisso, se não fosse por ela, Morgana teria saído da colônia apenas com a roupa do corpo.

    Com sua vida corrida em Runesfera, Morgana nunca tinha reparado como os portões da cidade eram belos, eles tinham mais de vinte metros de altura e nele estava gravado em alto relevo o desenho do símbolo das colônias. Uma enorme arvore com dez esferas e dentro de cada esfera estava o símbolo de uma colônia, isso representava a união das dez colônias dentro de Pandemônio, a floresta.

    Morgana sentia seu coração bater forte à medida que os portões iam se abrindo, Pandemônio era tão perigosa que nem pela rota de voo entre as colônias se conseguia ver, a rota era toda feita de concreto para que as fadas e animais não percebessem a movimentação que havia ali dentro e magias ocultavam abafavam os ruídos, ela se sentiu minúscula ao ver a floresta de frente pela primeira vez, Pandemônio era imponente e ameaçadora, neste momento Morgana quis estar morta.

    Ela deu alguns passos para frente a pedido do protetor, suas pernas tremiam e Morgana queria começar a chorar de novo, um ano, ela pensava, um ano é muita coisa. Parou por um momento e se virou com lágrimas nos olhos quando escutou o ranger do metal, os portões estavam se fechando atrás dela, ao se virar conseguiu ver por um breve momento sua mãe, que enxugava as lágrimas do outro lado do monstro de metal.

    Em meio às árvores Morgana sentou e chorou, ela ficou ali parada, ainda era possível ver os portões, mas a partir de agora ela não estava mais autorizada a chegar perto ou estaria descumprindo mais uma ordem do governo, há essa hora seu nome e foto já estariam nos documentos do governo como exilada e se tentasse chegar perto de outra colônia, ela poderia ser executada.

    A noite era bem pior, Pandemônio tinha barulhos horríveis e Morgana não conseguiu dormir, tinha medo que algo a atacasse. Ela subiu em uma das árvores e ficou sentada olhando para baixo. Em um momento, viu um rato cogumelo selvagem chegar perto de uma planta, ela tinha uma cor florescente que atraia a atenção, quando o rato cogumelo chegou perto o suficiente Morgana viu a planta dar o bote e engolir o animal inteiro. Ela estava no máximo a um quilometro de distância dos portões de Runesfera que era a distância mínima permitida, ela começou a revistar a bolsa, por que, por mais que sua mãe tivesse colocado comida e água a bolsa estava muito pesada.

    Ela apalpou a parte de baixo da bolsa e não conseguia acreditar no que sentiu, abriu a bolsa e foi afastando as coisas até ver um pequeno zíper, ao abrir, viu vários de seus cubos de estudo e mais uma vez agradeceu por ter uma mãe tão carinhosa. Pegou um dos cubos o abriu e começou a ler.

    Era um mapa de toda a Nova Terra e lá estavam descritas todas as colônias sua posição no mapa a melhor rota de onde ela estava.

    Ao sul, saindo de Runesfera, indo pela rota de voo encontra-se a colônia de Pajem, a sudoeste se encontra a colônia de Mistia, a oeste a colônia de Juno que é a capital das colônias, e um pouco ao norte, a colônia de Sorim. É muito fácil visitar outras colônias, mesmo não sendo a capital que tem acesso a todas as outras nove colônias, Runesfera fica perto de tudo. Ela sabia que não poderia se aproximar de outras colônias, então qualquer que fosse o caminho que seguisse, aquele mapa seria importante para não acabar morrendo por engano. Continuou vendo os mapas e lá também tinham um mapa da parte interna de cada colônia, ela sempre mostrava esses mapas para seus alunos a fim de mostrar as diferenças de cada colônia e como muitas arquiteturas se assemelhavam ou referenciavam as do “antigo mundo”.

    Morgana desligou aquele cubo e pegou outro.

    O título era: A História dos Sete Fundadores

    Depois da Guerra da Evolução, a Terra sofreu muito, mais de 70% da humanidade foi dizimada com bombas nucleares e o que sobrou teve que reinventar o método de vida.

    Os “antigos humanos” se dividiram em colônias e ficaram reclusos durante muito tempo; os antigos, como eram chamados, começaram a trabalhar e reconstruir seu mundo, e por muitos anos isso deu certo até os primeiros “novos humanos”, ou conjuradores despertarem.

    Esses “novos humanos” demostraram poderes incríveis como mover as coisas com a mente fazer surgir coisas do nada e ate conjurar elementos da natureza. Outras guerras menores se sucederam, mais uma vez os humanos se dividiram e aqueles que não possuíam magia ficaram contra os que a possuíam e assim, mais mortes aconteceram até que dentro desses “Novos humanos”, sete deles se destacaram aos demais e fundaram o novo modo de vida colonial. O que não foi fácil.

    Eles tomaram o poder e criaram sua própria colônia, a primeira a ser construída no marco zero da Nova Terra foi Juno e durante muito tempo os conjuradores viveram lá, os humanos ditos normais que não quiseram viver dentro das instalações arrumaram outro modo de vida e durante muito tempo os sete conjuradores tomaram conta da paz que foi instaurada nessa colônia, transformando-se assim nos Sete Fundadores da Nova Terra.

    Eles eram Dominic Dela Cruz, Imani Kamara, Ayo Tellei, Tarik Alaqui, Felipe Henriques, Alice Marinho e Shui Wang. Juntos eles fundaram todas as Dez Colônias e a protegeram até o fim de seus dias, mas ninguém previa o que estava por vir, muito tempo se passou e as fadas apareceram, os Fundadores se reuniram mais uma vez e foram à caça das fadas até que encontraram Megaira, uma fada muito poderosa que quase acabou com as reservas mágicas dos Fundadores.

    Depois de doze dias de batalha, eles finalmente conseguiram derrotar a fada rainha, mas não acabaram com todas, pois era impossível, com isso em mente vendo que o povo estaria em desvantagem, eles fortificaram os campos de força das colônias, agora além de proteger os conjuradores do ar contaminado por radiação proveniente da Grande Guerra da Evolução, os campos também eram fortes o bastante para proteger das fadas.

    Anos após a batalha contra Megaira, seis dos sete fundadores desapareceram misteriosamente e o que sobrou saiu em busca de seus colegas e nunca mais foi visto.

    Depois de uma semana de exilio, Morgana decidiu sair de seu lugar e procurar algo mais algo mais confortável que um tronco de árvore seco e plantas carnívoras. Uma das coisas que sua mãe havia colocado dentro da bolsa, era um cantil com água potável o que fez Morgana chorar de alegria, mas essa agua estava acabando e ela tinha duas opções: morrer de sede, ou beber a agua contaminada que encontraria na floresta e morrer por complicações devido a radiação que ainda teria na agua.

    Escolheu a segunda opção, afinal já estava contaminada por respirar o ar fora da colônia e sem os filtros, tudo o que ela respirava era tóxico. Parando para pensar nisso, ela percebeu que o ar de Pandemônio era diferente, ela imaginava que o ar seria irrespirável e mal conseguiria manter-se em pé por causa disso, mas ao contrário do que pensou, o ar parecia... limpo, talvez limpo não seja a palavra certa pensou ela, mas com certeza era diferente.

    Morgana começou a andar, andou o que para ela parecia horas ate que não aguentou mais e sentou em uma pedra, abriu sua bolsa e viu o que tinha sobrado.

– Mesmo racionando, minha alimentação acabou muito rápido.

    Dentro da bolsa tinha apenas um pedaço de pão e queijo ambos duros, Morgana deu dentadas no queijo e literalmente roeu o pão e bebeu o resto da agua que tinha no cantil. – Estarei em graves problemas mais tarde se não encontrar qualquer coisa para comer ou beber.

    Depois de descansar um pouco ela retomou seu caminho, tudo ali era muito igual, para qualquer lugar que olhasse só via arvores, musgo e animais pequenos, nada com que se preocupar.

    À medida que o dia foi se passando a fome de Morgana só aumentava, ela não se atrevia a pegara nenhum fruto de qualquer que fosse a arvore, ela não era uma cientista e sim um conjuradora de ensino e qualquer coisa errada que pudesse comer poderia lhe causar grandes estragos, até a morte.

    Morgana olhou para o céu, estava em uma aquarela quente de cores, vermelho e laranja com o amarelo do sol, o pôr do sol era sempre bonito dentro de Runesfera, mas ali fora tinha algo a mais que ela não sabia explicar o quê, mas gostava.

    Morgana foi olhando ao redor, a mata era densa e assustadora, mas ganhou um colorido magnifico com o pôr do sol, até que uma árvore em especial lhe chamou a atenção, era uma árvore grande e estava cheia de frutos, e eram belos frutos, vermelhos da cor do sangue estavam pendurados nos galhos, quando chegou mais perto viu. – São maçãs! – Exclamou sorrindo, Morgana se sentia uma criança quando recebe o presente que pediu na comemoração de seu nascimento, ela pegou um galho que estava perto e começou a bater nas maçãs para que caíssem, quando recolheu o suficiente, ela ouviu um grunhido que vinha de algum lugar ao seu redor.

- Socorro! – Exclamava uma voz rouca vinda de dentro da mata mais densa.

    Morgana parou “Alguém precisa de ajuda”. Parando para pensar em seu próprio pensamento ela se deu conta de que talvez, ela não fosse a única conjuradora na floresta. “Tem mais alguém aqui e está em perigo, eu preciso ajudar”.

    Ela começou a andar devagar – Socorro! – exclamou a voz novamente, era uma suplica dolorida, dava para perceber o medo que vinha na voz, o sol já não brilhava tanto na floresta e ela precisava prestar bastante atenção aonde ia. Morgana começou a andar mais rápido em direção a voz, talvez a pessoa estivesse sendo atacada, ou foi ferida e estava prestes a morrer, Morgana precisava ajudar.

- Socorro!!! – O grito estridente estava a poucos metros de distância a frente, Morgana já se preparava, estava fraca e sua reserva mágica não seria de grande ajuda, mas pelo menos poderia tentar curar ou espantar o predador.

    Morgana paralisou. Do meio das árvores apareceu uma fada, ela tinha o corpo parecido com o de um tamanduá pantera, mas a cabeça era humana, por alguns minutos Morgana ficou olhando para o bicho, seu corpo era musculoso e seu pelo negro reluzia a pouca luz que entrava na floresta, os olhos eram como duas bolas de fogo.

- Socorro!! – Gritou a fada.

    Morgana então entendeu que não era um pedido de socorro real, aquela era uma “Lamentadora”.

    Lamentadoras, são fadas que tem a capacidade de imitar o discurso e usá-lo para a caça, caso peguem conjuradores, ela imitarão os gritos de sua presa pedindo por ajuda, e Morgana caiu na armadilha.

    Naquele momento Morgana não sabia o que fazer foi quando uma ideia maluca lhe passou pela cabeça, ela colocou fogo no galho que estava segurando e jogou no animal, a fada rugiu.

    Morgana começou a correr por entre as arvores com a fada em seu encalço, a fada pulava de tronco em tronco, por um momento Morgana sentiu a pata de o animal raspar em sua cabeça, mas ela não ousava olhar para trás e continuou correndo, a fada rugia de fúria, “Socorro! socorro!” foi quando Morgana pisou em falso e o chão cedeu, ela começou a cair por um desfiladeiro.

    Ao chegar lá embaixo à primeira coisa que lembrou foi da fada, mas ela não estava mais a vista, pelo tamanho da queda, a fada deve ter desistido da presa, depois veio um pensamento súbito. – Eu estou na água – Já que não iria morrer virando comida de fada, com certeza iria morrer por conta do veneno da água.

    Morgana esperou, mas nada aconteceu, a história de que a água estava envenenada e virou ácido estava totalmente falsa, e a partir dai Morgana sorriu mais uma vez, encontrou maçãs e água potável para poder beber.

    Morgana encheu seu cantil e o colocou na bolsa junto com as maçãs, tirou a roupa e tomou um banho. Ela percebeu que Pandemônio poderia sim ser amedrontadora, mas ao mesmo tempo era linda, Morgana estava em uma clareira, tinham árvores rodeando todo o local e várias delas tinham frutas que Morgana reconhecia, tinha um lindo lago com água potável e no meio das árvores tinha o que há muito tempo havia sido uma habitação. Agradecida aos céus por providenciar isso, Morgana foi em direção à habitação, pelo menos naquela noite, ela teria onde dormir.




Capitulo 2 - Morgana caçada


    Morgana acordou revitalizada, estava renovada e dormiu como não dormia desde seu encontro com a fada dentro dos muros de Runesfera, ela estava disposta e seu humor estava bom, mesmo para quem acabou fugindo de uma fada Lamentadora e quase morreu no processo.

    Ela levantou, tomou banho no lago que havia no centro da clareira e foi colher algumas frutas, foi quando ela viu a cena mais bela que Pandemônio poderia lhe proporcionar. Vários papagaios-pavão levantaram voo por sobre a clareira, a visão era bela, os raios de sol batiam nas caudas multicoloridas dos animais criando fachos de luz azuis e roxos, em toda a sua vida na colônia, nunca tinha presenciado cena mais bela. O dia seria bom.

    Mesmo querendo fazer dali a sua morada, ela sabia que não poderia ficar por muito mais tempo, a fada da noite anterior poderia voltar e como ela bem sabia Lamentadoras podem andar em bandos se a caçada valer a pena e isso era uma coisa que ela não queria pagar para ver. Ao longo do dia Morgana se preparava para deixar aquele local magnifico, lavou sua roupa juntou todas as coisas que sua mãe separara para ela e começou a ler um de seus cubos de leitura.

    O cubo contava a história de um garoto que queria ver o mar, era uma aventura juvenil que acaba em desgraça, depois de passar por várias aventuras na floresta o menino consegui chegar a Merilis, mas ao entrar na água, ele percebeu como a água estava envenenada, por causa da grande guerra da evolução e teve uma morte horrível enquanto via sua pele desprender de seu corpo ainda consciente, até ser levado pelas ondes e desaparecer.

    Era uma típica história para colocar medo nas crianças, e alguns adultos, e fazer com que todos percebessem que dentro das colônias era o mais seguro. Depois de ler essa história, um pensamento passou por sua cabeça, e se ela fosse ver o mar? Se a água daquela clareira já estava boa para consumo e com certeza não estava envenenada, o mar, depois de tanto tempo, poderia também estar limpo e se ela conseguisse provar isso, seria não apenas recebida, mas reconhecida por toda a Runesfera. Os conjuradores de Portal de Jade conseguiriam se banhar em águas marinhas de verdade.

    Morgana estava aconchegada em um monte de folhas que havia coletado para construir a sua cama, estava debaixo do que há muito seria uma habitação dos antigos humanos e começou a pensar em como era a cultura deles e como eles se comportavam, sua mente vagou até chegar em sua família.

    Morgana se lembrou de quando era criança e sua mãe contava várias histórias, para ela e sua irmã, de um belíssimo mundo, onde as águas do mar eram puras e serviam de morada para seres míticos, claro que ela entendia que era apenas uma história, pois ninguém conseguiria respirar debaixo d’agua sem ajuda de magia. Ela se agarrou no pensamento de que a água do mar estaria limpa o suficiente para que todos usufruíssem, e mais, caso quisessem as pessoas poderiam sair de suas colônias natais e desbravar o mundo mais uma vez como os antigos humanos fizeram um dia.

    Morgana rapidamente deixou o pensamento de lado, esse tipo de pensamento poderia ser visto como traição ao governo e ela já tinha sido punida o suficiente por crimes que ela nem cometeu.

    Esse mesmo pensamento de traição lhe trouxe a saudade, mesmo que seu convívio com seu pai não fosse um dos melhores, Morgana sentia sua falta, ela entendia que por ser Primeiro Ministro ele tinha que ser mais duro com todos, pois cargos elevados necessitavam de uma postura mais austera. Morgana também se lembrou da sua irmã, nesse momento essa sabia que a solidão traz a nostalgia das coisas mais incomuns, ela sentiu saudades de Úrsula, lembrou de quando as duas eram crianças:

    Estavam sentadas embaixo do cobertor cochichando e rindo das piadas mais bobas, quando a porta de quarto abriu elas ficaram quietas por um momento.

- Eu sei que estão acordadas – disse sua mãe ligando a luz e puxando a coberta que as escondia.

    Morgana e Úrsula irromperam em risos ao ver a cara de graça que a mãe estava fazendo com meio sorriso e as mãos na cintura numa pose que não assustaria nem um rato-cogumelo.

- Deitem-se agora e durmam se não fizer a fada da madrugada irá entrar e levar vocês para a floresta.

    Sua mãe... Ao se lembrar de sua mãe e como ela foi corajosa, vivendo apenas para criá-las; Morgana sabia que sua mãe tinha recusado um bom trabalho como cientista na base de clima das colônias apenas para viver como dona de casa, sentia todo o amor que ela lhe dera ao longo dos anos e isso fez Morgana lembrar que tinha falhado como filha. Seus olhos arderam e mais uma vez ela se viu olhando para o infinito céu de pandemônio, sabia que tinha desonrado sua família quando foi exilada e não sabia como olharia de novo para sua mãe, e nem como pediria perdão por tudo isso quando voltasse para Runesfera, isso, se ela voltasse.

    A noite estava fria e ela não conseguia dormir direito, em dado momento ela soltou “Queria a minha mãe”, Morgana chorou até pegar no sono, o tempo não era importante em pandemônio, portanto ela não sabia dizer que horas ela foi dormir.

- Socorro! – Morgana foi arrancada de seu sono. – Socorro!

    A voz rasgada da fada parecia mais desesperada do que nunca, Morgana levantou tentando fazer o mínimo de barulho possível e foi ver onde a fada estava.

    A Lamentadora caminhou por dentro da água e foi em direção a árvore de maçãs, farejou e depois arranhou o local; “Ela está demarcando o lugar por onde eu passei” – pensou – “Ela está me rastreando”.

    Morgana sabia que não podia ficar nem mais um dia naquele local, mas também, não poderia sair agora se não isso poderia causar a sua ruína. Então esperou. Os pedidos de socorro estavam cada vez mais imediatos, a Lamentadora dava voltas pela clareira e por mais de uma vez chegou perto de onde Morgana estava, cada vez que a fada chegava perto, Morgana prendia a respiração, a luz da lua fazia os olhos da fada brilhar como duas bolas de fogo.

- Socorro! – Morgana abraçou seus joelhos e tentou não pensar no mostro que estava lá fora, sabia que a fada que tinha entrado na colônia não chegava nem perto da força e habilidade da besta que estava ali. Sem perceber, dormiu.

    Quando acordou, os únicos sinais da fada eram as marcas que ela havia deixado nas árvores, o sol já tinha chegado e ela decidiu que sairia daquele local, naquele dia.

    Arrumou as poucas coisas que tinha, frutas e água potável, além dos cubos que estavam espalhados no chão onde ela dormiu. Quando terminou subiu o morro e olhou mais uma vez para a clareira, que por poucos dias tinha lhe servido como lar, mas agora sua meta, graças á uma história infantil, era seguir ao sul para ver o mar, o verdadeiro mar.

***

    Morgana estava andando a quase duas semanas parando esporadicamente para dormir, mas sua experiência com a Lamentadora a fez ficar mais esperta, ela dormia em troncos de arvores ou coberta por folhas e musgos. Uma coisa que aprendeu rápido, foi que, para se manter viva, ela teria que se manter em movimento, parava o mínimo possível e só realmente levantava acampamento depois que anoitecia, usava toda a luz do sol para caminhar até não aguentar mais.


Capitulo 3 - A Lamentadora


    Era muito difícil andar pela floresta, como ela nunca foi desbravada, não tinha trilha para seguir, sabia que estava perdida, mas continuou andando, em poucos momentos ela via a rota de surf, mas como não siba onde estava não imaginava em qual colônia iria para e como estava exilada era perigoso chegar perto. A lua já estava alta no céu e Morgana estava cansada, ela viu no alto de um morro as ruinas de uma antiga cidade e resolveu procurar abrigo. Ela entrou numa habitação e viu que lá existia tecido, viu cortinas velas e lençóis e com sua conjuração de moldagem criou um saco de dormir para si.

    Ela saiu para procurar por gravetos e assim montar uma fogueira para se aquecer a noite, pois ao raiar do dia, ela se colocaria a caminho novamente. Mal chegou ao vão de entrada da habitação, na porta de entrada ela se deparou com os olhos brilhantes, seu coração parou por um momento, a lamentadora que já a estava perseguindo por muito tempo, estava ali de pé em frete à porta de entrada, olhando fixamente para Morgana, os olhos da fada estavam em brasa.

    Morgana achava que tinha despistado aquela coisa, mas ao que parecia a fada tinha decidido que Morgana era uma boa presa pelo nível de dificuldade.

- Socorro! – a fada grunhiu com saliva pingando de seus dentes.

    Morgana conjurou um campo de força e se colocou nele, a fada pulou em cima de Morgana, empurrando seu campo de proteção e fazendo-a bater nas paredes desgovernada. A cauda da fada estava em pé e ela se prostrou em ataque novamente.

    Morgana expandiu seu campo de força de modo a criar uma parede entre ela e a fada, a fada gritava, rugia e arranhava a parede magica, Morgana sabia que não ia durar muito tempo estava muito cansada, conseguiu recolher suas coisas e colocou o saco de dormir dentro da bolsa de forma desesperada, a fada bateu com o corpo contra a parede e o teto ameaçou desabar, Morgana saiu correndo na esperança de haver uma saia nos fundos da habitação e na cozinha realmente havia outra porta, ao chegar ali ela escutou um barulho que se assemelhava a vidro quebrando e viu sua parede ruir e cair, mas antes que a fada começasse a correr em seu encontro ela apontou sua mão para a viga de sustentação e lançou uma bola de fogo fazendo o teto da habitação cair.

    Na parte de trás daquilo que um dia tinha sido uma habitação ela viu mata densa e um grande carvalho caído, ela passou deu dois passos em direção à mata quando escutou a fada gritar “Socorro!” ela se virou para trás com os olhos arregalados e viu a fada emergir dos escombros, ela correu e se arrastou por baixo do tronco do carvalho caído, ao se levantar viu que a fada estava em cima do tronco, andando de um lado para o outro, possivelmente analisando sua presa, a cabeça semi-humana da fada estava sangrando e ela estava com uma de suas patas machucada, mas isso não impediria de atacar mais uma vez.

    Morgana tentou se afastar devagar, mas tropeçou num galho grosso e no desespero acabou caindo sentada. Esse foi o momento que a fada esperava e ela pulou. Morgana por puro instinto levantou o galho contra a fada e fechou os olhos. Quando abriu viu a fada se contorcendo a meio metro de seu rosto, o galho havia atravessado o peito do monstro que agonizava em um grito de socorro molhado, como se estivesse se afogando no próprio sangue, até que parou.

    Morgana soltou o galho de lado e sentiu todo o seu corpo tremer, a adrenalina havia passado. Morgana ficou olhando por um tempo para o monstro, certificando-se que ele realmente morrera, em menos de três meses Morgana conseguiu matar duas fadas.

    Ela deixou a fada no mesmo lugar e ateou fogo ao seu corpo, ao subir no troco do carvalho, ela sentiu uma brisa pesada passar por ela e ao olhar para trás só conseguiu ver o vulto de outra criatura, dessa vez maior e o corpo em chamas da fada morta, havia sido levado, assim Morgana viu mais uma assinatura da floresta, não importa em que lugar da cadeia alimentar você esteja, sempre haverá um predador.


Capitulo 4 - O universo em um animal




    O sol nem havia surgido ainda e Morgana já estava andando, ainda estava em pleno êxtase pela batalha travada na noite anterior. Quando finalmente a copa das árvores clareou, Morgana estava na entrada de outra cidade antiga, ela entrou devagar olhando para todos os lados, aparentemente todas as “cidades antigas” o estavam completamente abandonadas, ou eram ninhos de fadas ou dos animais da região.

    De todas as cidades que passou aquela estava em melhores condições, provavelmente aquela cidade não foi atingida pelas bombas da grande guerra da evolução. Morgana arrombou uma porta e entrou, tudo tinha cheiro de mofo e plantas, a poeira densa, dançava no ar, era o lugar perfeito para fazer de sua moradia temporária, colocou sua bolsa em cima da mesa e saiu novamente à procura de alimento e madeira para fazer tochas e fogueira para a noite que estava começando a ficar mais frias.

    Ao andar pela cidade devastada, pensamentos invadiram a mente da conjuradora. Por que o governo não informou a população que a o ar e a água já estavam boas para consumo? Por que não criar uma divisão com os melhores protetores para torná-los caçadores e equilibrar o convívio com as fadas?

    Ela sabia que tais pensamentos dentro da colônia poderiam ser vistos como traição ao governo e como não tinha com quem dividir esses pensamentos, entendeu que esse não era o melhor para isso. Morgana continuou andando e viu restos de habitações acabadas paredes caídas e grandes prédios tomados pela floresta, os meios de transporte daquela época se espalhavam por toda a extensão da antiga cidade, era uma beleza assustadora, ao ver que estava realmente sozinha Morgana percebeu que era bem mais triste estar em um lugar onde não poderia conversar ou mesmo ver outros conjuradores.

    Morgana parou em um banco que estava coberto de musgo e pela primeira vez em muito tempo se entregou as lágrimas, agora que a adrenalina dos dias tinha passado, ela começou a entender sua real situação, estava exilada, não tinha mais moradia, emprego, amigos e família. Quase foi morta diversas vezes e estava perdida e tudo o que lhe restara para lhe dar forças era uma bolsa e alguns livros-cubo.

    Muito tempo se passou com ela sentada, o clima estava mudando, as lágrimas já estavam secas em seu rosto enquanto ela estava imersa em seus próprios pensamentos, ela percebeu uma luz vinda do meio das árvores e mesmo sabendo que poderia ser muito perigoso, isso atiçou a sua curiosidade. Ela andou em passos lentos e calculados, qualquer barulho poderia entregar a sua localização e em Pandemônio isso era a mesma coisa que uma sentença de morte. Morgana encostou as costas na parede, na rua lateral, o foco de luz era maior, ela deu uma olhada de relance, mas só viu o foco de luz e percebeu que ele se distanciava cada vez mais, a conjuradora seguiu o brilho até que ele passou por um facho claro de luz e Morgana pode ver do que se tratava.

    Era uma espécie de animal, era todo coberto com pelos, tinha o focinho de um urso ornitorrinco, mas sem o bico achatado, o rabo era curto e peludo, Morgana percebeu que em pé ele deveria ter uns dois metros de altura, mas não parecia ser uma fada, muito menos um dos animais que foram catalogados pelo Centro de Pesquisa Ambiental, mas mesmo assim era a criatura mais linda que Morgana já tinha visto, ele parecia, completo, e ao olhar com mais atenção Morgana percebeu duas coisas, a primeira é que aquele lindo animal tinha um filhote que andava ao seu lado pulando e brincando e a segunda e a mais importante o corpo dos dois animais era coberto por um “universo” próprio que dançava por seus corpos, Morgana pôde ver estrelas, constelações e buracos negros e até pequenas explosões cósmicas e percebeu que era aquilo que fazia os corpos brilharem, era lindo de se ver.

    Morgana seguia o animal de longe e viu quando ele se teleportou mais para frente, apertando o passo ela tentou segui-lo, quando ela o viu entrar num antigo prédio abandonado. Morgana não pensou duas vezes, afinal ela era educadora e curiosidade era um de seus méritos, ela entrou no prédio e seguiu o animal.

    Ao entrar no prédio Morgana logo viu que as instalações não eram propicias a entrada da luz do sol e o pouco de luz que entrava era vinda dos buracos do tato feitos pelo tempo. Morgana continuou andando e percebeu que tipo de prédio era aquele, na época em que a humanidade era guiada pelo capitalismo, prédios como aqueles eram comuns em todas as sociedades, eles eram projetado a não entrar nenhuma luz externa tendo apenas a eletricidade para deixar tudo claro, assim quando os humanos entravam, era difícil saber quanto tempo estavam lá dentro e podiam gastar mais. Morgana não entendia como a humanidade deixava ser enganada daquela forma, mas quando parou para pensar sobre o assunto, se a teoria dela estivesse certa, não era muito diferente do que o governo estava fazendo agora com os conjuradores.

    Morgana continuou andando, sem ver muita coisa, mas mesmo com a pouca luz, ela viu que as lojas estavam destruídas, portas de vidro quebradas e havia musgo, plantas e poças de agua por todo lugar.

“Quando não houver mais nada na Terra, ainda haverá a floresta” – falou Morgana para si mesma.

    O pensamento de Morgana foi interrompido por um clarão, ela sabia que era o estranho animal e foi até o foco de luz, tomando o máximo de cuidado para não assustar o animal, teve que controlar o grito quando vários ratos-cogumelo passaram correndo entre seus pés.

    Morgana viu o foco de luz se afastar rapidamente mais uma vez e teve uma ideia, que mais tarde considerou mais estupida do que jogar um graveto em chamas numa fada, ela se concentrou o conjurou o campo de força em volta do filhote do animal, assim ganharia algum tempo. O animal maior se virou para trás e rugiu para Morgana, ela percebeu que sua cabeça caberia perfeitamente dentro da boca do animal, ele se voltou e começou a dar patadas no campo de força, de dentro do campo de força o filhote guinchou e Morgana pode perceber que quem era o detentor da magia era o filhote, os dois teleportaram novamente, agora tudo o que poderia fazer era continuar procurando por eles novamente.

    Morgana começou a andar pelo prédio e começou a escutar estalos e rugidos vindos de algum lugar, o prédio era grande, ela encontrou um lance de escadas de metal que levavam a parte superior do prédio e decidiu subir.

    Morgana olhou atentamente para o lugar e percebeu que ele tinha vários andares e por todos os lados tinham lojas com paredes de vidro e varias prateleiras, em um momento Morgana se assustou quando viu a sombra de um conjurador, mas quando chegou perto viu que era uma replica feita de plástico, riu de sua própria inocência e continuou andando, no andar onde estava ela viu uma loja que estava semifechada com uma porta de correr feita de metal os barulhos lá dentro eram constantes, mas nenhum brilho vinha de lá, ela levantou uma mão, deixando-a em forma de garra na altura do peito;

- Que a chama que em mim habita, possa iluminar o meu caminho.

    Uma pequena chama apareceu flutuando na palma de sua mão e ela usou para iluminar o caminho e seguiu em frente, o coração dela batia tão forte que doía, mas ela continuou pelo caminho e viu uma bagunça de máquinas, mesas, cadeiras e plantas por todos os lugares, já em frente à porta ela segurou com a mão que estava livre e a subiu ruidosamente.

    Ao entrar no cômodo ela sentiu um formigamento que foi dos ombros até os calcanhares, não conseguia distinguir o que via, ela queria que fosse qualquer coisa, mas o que ela viu foram ninhos de fada, ali naquele cômodo haviam vários ninhos, com as fadas aninhadas nele, dormindo, ao que parecia.

    Eram fadas estranhas e totalmente diferentes das que tinha encontrado em Runesfera e em seus primeiros dias na floresta, essas fadas tinham o dorso humano com braços e cabeça também humanas, mas o abdômen era igual às de uma aranha serpente. Eram Aracnes; Fadas que se assemelham ao conjurador da cintura pra cima e uma aranha da cintura para baixo, com uma cauda que começa na coluna. Num impulso controlado pelo medo, Morgana só pensou em uma coisa, destruir aquele ninho, aumentou a intensidade do fogo e o jogou em direção às fadas, o fogo pegou rápido e um clarão laranja tomou todo o espaço do lugar, mas dessa vez, ela não ficou para ver se as fadas tinham morrido, deu meia volta e começou a correr tropeçando e derrubando tudo o que via pela frente, a conjuradora nem teve tempo de se sentir aliviada, pois logo que começou a correr escutou os gritos das fadas e a correria que se sucedeu logo após a sua fuga, Morgana saiu correndo por um dos corredores e acabou se perdendo, ela ouvia as fadas se aproximando e o terror começava a tomar conta de sua mente, tentou manter a calma para não piorar as coisas e no meio da correria caiu, no chão, ela olhou para trás e seu temor se tornou realidade, as fadas tinham-na visto e vinham em sua direção, Morgana se levantou e começou a correr, dobrou no primeiro corredor que viu e ouviu os clacks que as patas das fadas faziam no chão, dobrou mais uma vez no corredor seguinte e mais uma vez, foi quando se deu conta que havia dado uma volta em todo o perímetro, por um lado ela ficou aliviada, pois conseguia ver novamente a escada de metal que dava para as portas de entrada, iria sobreviver.

    Quando chegou a menos de cinco metros da escada ela tropeçou em alguma coisa que começou a se debater, uma das fadas estava caída com as pernas para cima e tentava se levantar, dessa vez não teve como segurar e gritou de terror, isso alertou ainda mais as fadas que vieram correndo mais rápido subindo por cima das coisas e pulando uma sobre as outras, provavelmente o jantar estava para ser servido. Ela tentou passar por cima da fada caída, mas a cauda da fada enroscou em sua perna fazendo com que ela fosse ao chão novamente, ela começou a rastejar em direção a escada, a fada tentava agarrar seu corpo de todas as formas, ela socava o monstro enquanto tentava se desvencilhar, a cauda apertava sua panturrilha, ela tateou pelo chão e encontrou um caco de vidro, afundou ele na cauda da fada, quando sentiu que sua perna estava livre, ela se empurrou e rolou escada abaixo antes que a horda de fadas a alcançasse.

    Bateu as costas com muita força no chão do primeiro andar, levantou sem dar muita importância à dor e começou a correr novamente. Morgana já conseguia ver a luz que vinha das portas de entrada, atravessou correndo e ficou cega com a luz repentina. Estava cansada e com medo, mas com a claridade do dia e um espaço maior ela até se dava o direito de ter esperanças de se salvar quando sentiu algo prender sua perna e caiu para frente batendo a cabeça no chão, tudo ao seu redor começou a zumbir, ela olhou para sua perna achando que uma das fadas a tinha alcançado, mas viu que era uma espécie de corda viscosa que estava enrolada em sua canela, Morgana tentou tirar, mas mesmo viscosa era resistente e ela não conseguia fazer nada. Morgana sentiu a primeira puxada, mirou em direção ao prédio para ver o quão longe às fadas ainda estavam e percebeu que elas não saiam da parte escura do prédio, possivelmente elas eram vulneráveis ao sol ou ao calor. Morgana sentiu seu corpo ser arrastado novamente, tentou prestar atenção para ver o que a estava puxando, era uma fada grande, com as pernas de uma serpente aranha, mas o dorso era de um humano, um homem para ser mais especifico, mais um puxão, e a cada puxada que a fada dava Morgana conseguia sentir o gosto da bílis na boca, misturado com sangue, terra e restos de plantas, a “corda” começou a apertar mais a sua canela e entrou na carne, Morgana gritou de dor e sentiu o sangue escorrer, começou a chorar, queria desistir e deixar-se morrer, acabar com o desespero, de algum modo sabia que estava perdida.

Eu vou morrer agora – pensou Morgana, mas algo em sua alma não queria deixa-la desistir, foi quando Morgana arrumou as ideias tentou acalmar seu coração.

- Que a chama que em mim habita, possa destruir os obstáculos no meu caminho.

    Sua mão entrou em combustão, mas ela não se queimou uma coisa boa para quem nasceu com o dom do fogo. Os conjuradores nasciam com dons especiais, no caso de Morgana o dom do fogo, mas o governo só permitia fazer magias de acordo com a sua ocupação na sociedade, todos aqueles que decidiam ir para a colônia de Runesfera, iria contribuir com o desenvolvimento arcano das colônias ensinando os novos conjuradores e mantendo a escrita da história, um livro sagrado que contém a história da humanidade desde a fundação de Juno, qualquer outro tipo de magia que não ajudasse com os seus deveres dentro das colônias, não era permitido.

    Morgana sentiu um novo puxão e sua perna doeu mais ainda, ela se sentou para ver como estava o ferimento, ela encostou a mão na perna e gritou de dor quando realmente sentiu seu corpo queimar, o fogo saiu consumindo a corda até chegar onde as fadas estavam, a fada gritou no sombrio prédio onde estava escondida, Morgana se levantou e saiu correndo e mancando de volta para seu esconderijo. A perna de Morgana latejava e ela não conseguia correr direito e a cada passo que dava um rastro de sangue demarcava seu lugar, mesmo mancando Morgana sabia que estava segura das fadas e a casa que encontrou poderia ser um bom lugar para se esconder e se curar, com o dom do fogo, a cura seria uma coisa difícil de fazer e demoraria alguns dias.

– Bem que eu podia ter nascido com o dom da cura – falou Morgana consigo mesma.

    Morgana continuou andando, mas em dado momento entrou na rua errada e ficou desorientada em como voltar para o seu esconderijo, precisava se apressar, pois em poucas horas iria escurecer e ela poderia ter problemas.

    No meio do caminho havia um transporte dos antigos humanos que estava coberto com galhos secos, na frente do velho transporte Morgana viu dois Vultorses brigando.

    Vultorse é um animal híbrido com o corpo de cavalo e cabeça de abutre. Andando mais um pouco em direção a cena Morgana pode ver o motivo da briga, dentro do ninho estava um filhote, ele estava deitado e respirava ofegante vez ou outra dava um pio, mas muito baixo, como uma conjuradora de ensino, Morgana ensinava aos jovens a respeitar e amar todos os animais e aquela cena era desoladora, Morgana conseguia perceber a dor e do desespero da mamãe Vultorse em defender seu filhote de um alfa apenas para aumentar seu poder territorial, os animais se empinaram ficando em pé nas patas traseiras, o macho bicou a fêmea e ela desequilibrou, o macho virou de costas e coiceou as costelas da mãe que piou de dor. Morgana não podia ver mais aquilo e resolveu ajudar, por um momento ela esqueceu a dor que sentia na perna e se concentrou ao máximo em um novo campo de força.

    O cristal cresceu em volta do animal prendendo-o.

    Morgana concentrou todo o seu poder e jogou o campo de força para o alto com o animal dentro, a fêmea levantou-se com um pouco de dificuldade e foi até o transporte que fez de ninho, piou baixinho e o filhote levantou a cabeça, a fêmea deitou do lado de fora do transporte, enquanto o filhote saía e ficava ao lado de sua mãe.

Morgana ficou feliz em intervir e olhando aquela cena, lembrou de sua própria mãe, seu peito ficou apertado e a respiração ofegante, Morgana se sentia sozinha, não podia contar consigo mesma e sua mãe não estava ali para ajudar a passar por aquilo tudo e sentiu-se perdida.

    O filhote piou mais alto, fazendo Morgana voltar de seu devaneio, ela foi ate onde o filhote estava deitado, viu a mãe que não se mexia, estava morta. Tentou da forma mais calma e gentil se aproximar do filhote, mas ele, com medo, ficou instável e começou a piar alto, Morgana já sem paciência e sem tempo, colocou o filhote dentro de uma bola de campo de força e começou a andar com o filhote ao seu lado.

    Chegando ao seu esconderijo Morgana colocou o filhote na sala, ele já cansado por se debater o tempo inteiro, só aceitou seu destino e se deitou onde o campo de força se desfez, ela colocou fogo em um pedaço de madeira para clarear o ambiente.

    A noite finalmente chegou e Morgana foi lembrada mais uma vez como Pandemonium pode ser assustadora, durante toda a noite Morgana ouviu os gritos das fadas que tinham encontrado durante o dia, assustada, ela apagou a tocha improvisada e se concentrou em se curar e curar o animal, era uma tarefa difícil, às vezes o processo de cura poderia ser doloroso e Morgana tinha que fazer o animal ficar parado.

    Ela parou de tentar quando percebeu que os gritos das Aracnes estão se aproximando de seu esconderijo, apagou a tocha, tentou deixar o filhote confortável e dormiu ao som dos grunhidos das fadas.

    Na manhã seguinte Morgana pegou seu cubo e tentou procurar alguma informação sobre essas fadas, mas não conseguiu muita coisa, no cubo apenas tinha a informação básica dos monstros, então ela decidiu criar seu próprio cubo de bestas, começou com informações sobre os primeiros animais que encontrara na floresta, depois colocou informações detalhadas das lamentadoras assim como a maneira que encontrou para derrota-la, na aba seguinte começou a falar sobre as Aracnes, enquanto falava sua voz ia sendo convertida em texto e fixada em seu cubo, que ela denominou como “Cubo do Exilio”, assim caso alguém na posteridade passasse pelas mesmas coisas que ela, aquele cubo poderia ser de grande ajuda. Depois disso ela continuou o processo de cura do animal, ela deu algumas frutas para ele e continuou trabalhando, ele não estava muito ferido, então com pouco tempo ele já estava bem.

    Ela saiu de seu esconderijo quando o sol estava alto, por todo lado tinham aquelas teias, ela não pensava mais no animal do universo, pois sabia que estava novamente em perigo, ela começou a queimar o maior numero de teias possível para que as aracnes se perdessem na sua busca, mais uma vez Morgana estava sendo caçada por uma fada e ela sabia que se continuasse em seu esconderijo, seria uma questão de tempo até que ela fosse encontrada. Morgana parou em frente ao grande prédio e olhou lá dentro da parte escura ela pode ver olhos prateados vindo de dentro da parte escura do prédio e não se atreveu a entrar novamente, em seu intimo ela sabia que tinha que sair dali o mais rápido possível. Voltou para casa.

    Lá ela percebeu que o filhote estava inquieto, provavelmente ele sentia algo, mas não poderia se dar ao luxo de entender o que era, tinha que arrumar as coisas e passar por mais uma noite de frio, as aracnes iriam sair novamente assim que a noite caísse e tudo tinha que estar pronto para que ela fosse embora à manhã seguinte, assim ela usaria o sol para “se esconder”, e quando a noite chegasse, ela já estaria o mais longe possível daquele lugar.


Capitulo 5 - Vida longa à Rainha



Postar um comentário