Prólogo - Tinha que acontecer com a Morgana
Morgana estava terminando sua
aula naquele dia, como em todos os outros, o dia estava lindo, mas ela estava
cansada, terminava de falar sobre os campos de força que protegiam todas as
colônias das fadas quando um de seus alunos levantou a mão.
-
Pode perguntar – disse ela o mais amável possível.
-
Por que todos nós vivemos presos dentro das colônias? Já que nós podemos
conjurar coisas não é mais fácil montar uma equipe e limpar o mundo das fadas?
Morgana
sabia que aquela faixa etária era a mais difícil os poderes das crianças
estavam se manifestando e eles queriam provar a todos que eram capazes de
enfrentar as fadas e serem os heróis assim como um dia foram os fundadores.
-
Não é bem assim – começou a explicar – as fadas são seres surpreendentes de
poder inimaginável, um conjurador sozinho não é capaz de enfrenta-la e mesmo
uma equipe demoraria muito para enfrentar uma fada adulta totalmente desperta,
sem falar que o ar as águas e as plantas ainda estão corrompidos por causa da
radiação da grande guerra da evolução. – Quando a radiação estava tomando conta
do mundo e os primeiros poderes se revelaram, os Mestres Conjuradores
levantaram as colônias para nos proteger das fadas, pois até eles sabiam que
tudo no mundo tem um inimigo natural e o dos Conjuradores são as fadas.
-
Se as fadas são inimigas naturais dos conjuradores, quem são os inimigos
naturais das fadas? – Continuou o aluno.
Nesse
momento o sinal tocou para que todos fossem embora.
-
Vamos continuar nossa conversa amanhã tudo bem? – Os alunos começaram a se
levantar – Não se esqueçam de ler o texto sobre “A Evolução da Conjuração”, ele
será à base das nossas próximas conversas.
Morgana chegou a sua
habitação começou a se preparar para os afazeres da noite, tinha coisas para montar
para a próxima e sua reserva mágica não seria o suficiente.
Morgana era uma conjuradora de uma família
importante das Dez Colônias, mas nunca se casou e depois que seus pais tiveram
sua irmã mais nova, ela meio que ficou esquecida pela família. O que ela
adorava, pois assim podia se dedicar mais ao que gostava de fazer. Formar novos
conjuradores.
Era alta e esguia, com a pele cor de chocolate,
olhos castanhos e um cabelo preto encaracolado bem cheio, era uma conjuradora
bonita, uma conjuradora bonita com quase trinta anos. Mas mesmo assim ela não
via necessidade de ter um companheiro, toda a companhia da qual ela necessitava
era proveniente de seu gato-leão Saat.
Naquela noite ela recebeu uma projeção holográfica
de sua mãe, que possibilitava a conversa em tempo real, elas passaram alguns
minutos conversando, mas logo teve que desligar o seu cubo holográfico, se não,
poderia se atrasar com os deveres do Centro de Formação do dia seguinte.
Depois de tomar a decisão de não se envolver com
assuntos políticos como seu pai, que era o Primeiro Ministro de Runesfera, sua
mãe era a única pessoa com quem tinha um contato mais próximo.
Por causa das inúmeras discussões com seu pai
envolvendo o bem estar da família na politica e como, por ser a mais velha, ela
deveria se comportar na sociedade, Morgana saiu de casa para morar na Ala C e
ensinar os mais jovens.
Seu pai decretou que ela era a vergonha da
família, mas ela não tinha nenhum interesse em como funcionava o método de
governo das dez colônias, para ela tudo estava bem se funcionasse direito, e
funcionava, portanto estaria feliz em deixar a herança do ministério com sua
irmã mais nova.
Sentia-se feliz com a vida que levava, estava
morando em uma das melhores colônias de toda a Nova Terra, tinha escolhido seu
próprio emprego e não se preocupava com processos políticos nem com as
preocupaçõe que sua irmã trazia.
Runesfera é o melhor lugar para se viver quando se
dedica a ensinar. Essa é a cidade da magia. Na Academia de azaração são
ensinados os conhecimentos arcanos. No centro de Runesfera se localiza o núcleo
gerador de campo de força que os ajudava a se proteger das fadas e outros
animais selvagens. Era um prédio enorme, tão alto que dava para ser visto de
qualquer lugar da colônia em que estivesse.
A colônia em si é formada por anéis, que circundam
toda a extensão da colônia; Nos anéis Sul e Oeste ou Ala D, fica a população
massiva de Runesfera é o lugar onde Morgana reside, no anel Leste ou Ala C fica
o centro de distribuição de suprimentos, no anel Norte ou Ala A, se localizam
as mansões dos ministros e a casa do mestre conjurador, ele que possui uma
residência fixa em cada uma das oito colônias e sua mansão principal em Juno.
Morgana sempre achou que dividir a população em anéis era meio injusto, mas não
se envolveria com a politica de Runesfera, seu pai era primeiro ministro, então
ele que achasse o melhor modo de alocar todo mundo, quando criança, ela via
como era complicado tomar conta de tudo.
Morgana recolheu o lixo de casa e foi colocar do
lado de fora, quando Saat saiu correndo para a rua, ela sabia que se seu animal
fosse pego pela patrulha de animais ele seria levado para o abrigo e ela teria
que pagar os créditos que o governo solicitava para poder soltá-lo, e seus
créditos já estavam bem baixos para aquele mês, então ela decidiu ir atrás
dele.
Mesmo sabendo que era contra as regras do toque de
recolher, Morgana saiu em direção ao centro da Ala C, ela percebeu que uma das
vertentes do campo de força estava apagada. O protocolo pede para que se algum
morador vir ou ficar sabendo de algo fora do comum imediatamente deve informar
ao CTCE, Centro de Tratativas de Casos Extraordinários.
– Maldito gato, quando o encontrar, vou matá-lo.
Ela se dirigiu ao posto de comando mais próximo, e
viu que ele estava vazio, é provável que
alguém já esteja verificando o que aconteceu com a vertente. Morgana estava se preparando para voltar à
sua busca por Saat, quando ouviu um barulho vindo de um dos becos que estava
próximo dela. Quando foi verificar pensando ser o seu gato, ou algum
adolescente que estava descumprindo o toque de recolher, ela viu algo que fez o
seu sangue gelar.
Uma
fada. Pensou colocando a mão na boca. Em toda a sua
vida, Morgana nunca tinha visto uma fada, mas lia muito sobre elas, sendo uma
conjuradora de ensino, era sua obrigação saber das coisas, e via as imagens gravadas
nos cubos de ensino, mas nunca conheceu uma pessoa que tenha confrontado uma e
sobrevivido.
Fadas eram criaturas selvagens, muito cubos
falavam que elas eram quase demoníacas, aquela fada tinha o corpo encoberto por
um trapo com capuz o que dificultava a visão de seu rosto, e ela se dirigia
lentamente pelas ruas, vasculhando os lixos das casas, possivelmente procurando
restos de comida.
Morgana continuou seguindo a fada de longe,
precisava fazer alguma coisa para o bem do povo de Runesfera nem que para isso
infligisse a maior de todas as regras, conjurar
magias não autorizadas pelo governo.
Morgana viu a fada atravessar os portões da Ala B
e logo em seguida da Ala A e se dirigir até o núcleo de proteção da colônia, a
fada era rápida e ela teve que se esforçar para acompanhá-la, o núcleo de
proteção era o lugar onde os campos de força eram acionados. Tem que haver uma explicação para tudo isso.
Ela continuou seguindo a fada de longe e viu que ela entrou no prédio onde
ficava localizado o núcleo gerador de campo de força, quando chegou lá,
estranhamente a entrada estava desprotegida e trancada. Mas como essa maldita conseguiu entrar aí?
Morgana deu a volta no prédio e viu que uma das
janelas estava aberta, Não acredito que
vou fazer isso, pensou ela, conjurou uma magia de impulso e entrou pela
janela aberta em um pulo.
Lá dentro ela viu a fada destruindo os painéis de
comando, e pelos monitores viu que aos poucos uma a uma das vertentes do campo
de força iam se apagando. Sem pensar Morgana desceu as escadas e conjurou uma
bola de fogo que bateu em cheio nas costas da fada, que se virou e veio com
tudo para cima de Morgana, a fada atacou com as garras e Morgana conjurou um
campo de força e empurrou a fada um pouco mais para longe. A fada alçou voo e
cuspiu uma espécie de musgo ácido, Morgana esquivou.
Depois do que pareceu uma eternidade, Morgana não
aguentava mais atacar e desviar da fada, se escondeu e começou a conjurar sua
magia. Enquanto a fada procurava por Morgana, ela se concentrava no ritual.
Nunca tinha feito isso antes e em seu intimo ela estava com medo, parte por que
era ilegal, parte por estar enfrentando uma fada e parte por que se algo desse
errado ela poderia morrer e não tinha certeza se sua reserva mágica era
suficiente para conjurar uma magia daquele porte. Morgana estava quebrando um
tabu.
Os tabus eram rituais mágicos proibidos pelo governo, como
reviver uma pessoa, tentar criar uma pessoa do nada ou conjurar magicas
destrutivas, a lista de tabus era longa, mas como tudo, a maioria delas era
escondida dos povos, para não criar a curiosidade.
Neste caso em especifico o tabu que Morgana estava
quebrando era conjurar forças de outra realidade, esse era um ritual muito perigoso,
pois não teria como ela escolher quem viria dessa nova realidade e isso poderia
desencadear um processo de destruição em massa.
O tempo em sua volta começou a ficar escuro e mais
quente, enquanto falava as palavras mentalmente ela percebeu que uma fresta
surgia no teto do prédio e algo tentava sair dele, está funcionando, Morgana
agora estava mais animada do que amedrontada, quando a fresta se abriu por
completo o ar lá dentro era quente e tinha cheiro forte de coisa morta, fogo
liquido pingava das bordas da abertura e correntes saíram em direção ao chão
batendo em tudo o que estava pela frente, até que encontraram a fada. As
correntes se fecharam em seus braços e corpo, Morgana viu que onde as correntes
apertavam a fada começava a queimar. Um vento forte começou a soprar dentro do
prédio em direção a fada e Morgana viu que ela começava a brilhar agora, ela
começou a entrar em combustão, mas tudo agora estava sendo sugado para ela,
inclusive Morgana a fada começou a implodir, o brilho da fada ficou negro e ela
explodiu. Morgana só teve tempo de conjurar um campo de força para que ela
ficasse dentro, quando saiu ela percebeu que o encanto tinha se desfeito e a
fada tinha explodido levando o núcleo gerador de campo de força, assim como o
prédio junto.
Todas as vertentes apagaram e a colônia agora
estava sem o campo de foça noturno, Morgana só teve um momento para olhar para
o céu e por um breve momento ela viu que ele estava cheio de estrelas.
– Mas o que diabos aconteceu aqui? – Gritava um
homem que Morgana nunca viu na vida.
Ela saiu de seu campo de força e tentou se
recompor para explicar o que tinha acontecido.
– Como é seu nome? – Perguntou o homem.
– É que uma fada entrou na colônia e eu lutei com
ela... O homem riu
– Eu perguntei seu nome civil.
– É Morgana Senhor.
– Pois bem. Morgana você esta presa por quebrar
um tabu, desobedecer ao toque de
recolher e será julgada por terrorismo contra a colônia Runesfera e contra o
Governo.
Enquanto o homem falava Saat apareceu do nada e se
enroscou nas pernas de Morgana.
– Esse bicho é seu? - perguntou o homem.
– Sim - respondeu Morgana rendida.
– Então vou acrescentar que você deixou seu gato
leão andar livre pelas ruas mesmo com o a regra de manter animais presos.
Morgana olhou para o seu gato e a única coisa que
veio em sua mente foi "Maldito".
Capitulo 1 - Prisão, exilio e um gosto por maçãs
Uma semana se passou com Morgana presa, ela descobriu que não havia nenhum registro nas câmeras de segurança de toda a colônia, em nenhum lugar aparecia imagens de fadas, só Morgana andando de forma suspeita e destruindo todo o CTCE, as imagens internas foram perdidas por causa do ritual que Morgana fez, então era a sua palavra contra as gravações e a palavra do governo.
No terceiro ou quarto dia de prisão seu pai lhe fez uma única visita e veio com de sua irmã Úrsula, apenas para dizer que ela era a vergonha da família Vendrigo e que esse ato terrorista poderia causar grande estrago na família, ele até poderia perder seu cargo de Ministro.
Em todo o tempo, Úrsula nada falava, nem precisava
seu olhar de soberba já falava por si só.
Sua mãe por outro lado foi visitá-la todos os
dias, levava comida e roupas limpas.
– Minha filha. Acho que as noticias não são tão
boas.
– Depois do que aconteceu nada mais me
impressiona.
– Você perdeu o seu emprego como conjuradora de
ensino e o governo confiscou a sua habitação. Eles disseram que isso era para
verificar se você tinha planos escritos em algum lugar ou se estava tramando
com cumplices, eu entrei na sua habitação e pude pegar poucas coisas como as
roupas que te trago.
- Você se arriscou mãe – falou Morgana com os
olhos marejados.
- É o mínimo que eu posso fazer, sou sua mãe e
acredito em você, mesmo que seu pai diga o contrário, mas eu vou falar com ele
para saber se podemos usar nossa
influência com o Mestre Conjurador para uma pena mais leve, o fato dele ser
Ministro tem de servir para alguma coisa.
– Não mãe. Não faça isso – respondeu Morgana já
com lágrimas nos olhos – da última vez que ele esteve aqui, deixou bem claro
que não iria ajudar em nada.
O dia antes do julgamento Morgana não pode receber
visitas de seus familiares ou amigos, não que ela tivesse muitos amigos, mas
sentiu falta das conversas que teve com sua mãe nos dias que passaram, ela
ajudava a deixar o fardo mais leve.
Morgana não entendia como sua vida teria tomado
aquele rumo, ela que não queria se meter em encrencas, ainda mais com o governo
e agora estava prestes a ser julgada por uma coisa que, sim em termos era culpa
dela, mas por outro lado se os conjuradores protetores estivessem em seu posto
nada disso estaria acontecido. Mas agora não tinha nada que Morgana pudesse
fazer a não ser esperar.
Ela pediu para ver algum cubo histórico, mas lhe
foi negado, então se deitou e tentou dormir.
- Ei Conjuradora – falou um protetor
aproximando-se de sua sala, Morgana olhou para as grades. – Acho que você não
se safa dessa, nem mesmo sendo a filha do Primeiro Ministro. Estão falando ate
em execução.
Mesmo em meio à pressão psicológica que os
protetores tentavam fazer a ela, aquela informação a pegou de surpresa.
Execução só era sentenciada aos conjuradores que causavam grandes danos a paz
das dez colônias e mesmo com o acidente do CTCE ela não queria acreditar que o
Mestre Conjurador poderia ser capaz de sentenciá-la a morte. O único conjurador
que teve a punição magna decretada foi Johen pelo incidente com a colônia 00.
Mas Morgana nada respondeu.
Morgana soube logo quando o Mestre Conjurador
chegou, o alvoroço era visível e ela escutava as falas que vinham de fora do
prédio onde estava detida. Logo ela foi escoltada para o salão da mansão
central uma grande comitiva a esperava assim como sua mãe, pai e irmã.
– Morgana Vendrigo – falava o Mestre conjurador –
como você não pode se defender mediante as acusações que estão sendo feitas e o
modo como tudo aconteceu, eu tenho que dar meu veredito. Mesmo sendo a filha do
Primeiro Ministro de Runesfera, você não poderá sair impune e para manter a
ordem de nossa vivência, você será condenada há passar um ano no exílio, será
enviada assim que os primeiros raios de sol aparecer e terá que viver pelos próximos
doze meses em Pandemônio, se conseguir sobreviver ate lá, poderá voltar para
sua habitação e sua antiga vida, quando seu período de exílio passar enviaremos
conjuradores rastreadores para buscá-la.
Morgana nem teve tempo de ao menos tentar contar o
seu lado da história, tudo já havia sido decidido antes mesmo dela chegar ali,
mas por incrível que tudo pode parecer, ela estava calma, olhou para a multidão
e conseguiu distinguir rostos amigáveis a sua dor, sua mãe estava em prantos e
enxugava as lágrimas com a manga da camisa, seu pai olhava para ela
indiferente, sua visão era gélida e sem vida, mas o que assustou Morgana foi
como Úrsula a olhava, era um deleite tímido, mas cínico, parecia que ela
gostava de tudo aquilo que estava acontecendo com a irmã.
É certo que nem sempre elas se davam bem e a
maioria das brigas que ela tinha com Úrsula eram porque Morgana se recusava a
obedecer ao seu pai e estudar para tomar o posto de Ministra quando a hora
chegasse, Morgana havia trocado uma vida de luxo por uma habitação simples e um
bom casamento por aulas de magia e Úrsula não conseguia perdoar a irmã por
causa disso. Morgana não pôde nem se despedir de sua família, foi escoltada de
volta para sua sala e lá passou por alguns exames e ganhou sua tatuagem. Uma
marca de exilio que mesmo quando ela voltasse a sua antiga vida todos saberiam
que ela foi condenada, mas ao menos também saberiam que ela havia pagado sua
divida com o governo.
Antes mesmo de o dia raiar Morgana já estava de
pé, não conseguiu dormir, pois sabia o que estava por vir, assim que os
primeiros raios de sol irromperam no horizonte Morgana já estava caminhando com
dois protetores, dessa vez ninguém estava autorizado a ir com ela, pois assim
que os portões fossem abertos não era seguro e ninguém sabia o que poderia
acontecer, poderia haver fadas ou animais selvagens e tudo o que o governo mais
prezava era a segurança de seu povo.
Quando finalmente Morgana chegou aos grandes
portões de ferro, ela ouviu um grito ao longe, quando se virou, viu sua mãe
correndo em sua direção segurando uma bolsa contra o peito. Morgana parou de
andar.
– Você tem que ir – disse um dos protetores
empurrando-a.
– Por favor – pediu Morgana – minha mãe – e
apontou para a mulher que vinha correndo.
Sua mãe chegou e entregou-lhe uma bolsa.
– Ai tem algumas coisas que você vai precisar
claro que não vai durar tanto tempo – falou chorando – Mas um ano passam rápido
e você é uma menina forte e corajosa e sei que você vai se sair bem lá fora. –
dizia ela acariciando os cabelos da filha e afagando seu rosto.
Morgana finalmente se entregou as lágrimas, ela
tinha que ser forte, mas dessa vez não tinha ninguém olhando e sua mãe estava
ali.
– Estou com medo – falou.
– Eu sei querida, mas não há nada que eu possa
fazer. Eu juro que tentei, tentei intervir direto com o Mestre Conjurador, mas
ele me disse que isso deveria acontecer para que a paz nas colônias pudesse
continuar intacta.
– Ou seja – falou Morgana ainda com lágrimas em
cascata – estou servindo de exemplo para que o governo mostre seu poder.
Morgana abraçou sua mãe e ali permaneceram durante
alguns minutos com Morgana molhando o ombro de sua mãe, ate que um dos protetores
as separou.
Morgana abriu a bolsa que sua mãe havia lhe dado e
viu as coisas que tinham dentro; entre elas um vestido e um par de roupas mais
leves, calça e camisa, além de comida e ficou agradecida por sua mãe ter
pensado nisso, se não fosse por ela, Morgana teria saído da colônia apenas com
a roupa do corpo.
Com sua vida corrida em Runesfera, Morgana nunca
tinha reparado como os portões da cidade eram belos, eles tinham mais de vinte
metros de altura e nele estava gravado em alto relevo o desenho do símbolo das
colônias. Uma enorme arvore com dez esferas e dentro de cada esfera estava o
símbolo de uma colônia, isso representava a união das dez colônias dentro de
Pandemônio, a floresta.
Morgana sentia seu coração bater forte à medida
que os portões iam se abrindo, Pandemônio era tão perigosa que nem pela rota de
voo entre as colônias se conseguia ver, a rota era toda feita de concreto para
que as fadas e animais não percebessem a movimentação que havia ali dentro e
magias ocultavam abafavam os ruídos, ela se sentiu minúscula ao ver a floresta
de frente pela primeira vez, Pandemônio era imponente e ameaçadora, neste
momento Morgana quis estar morta.
Ela deu alguns passos para frente a pedido do
protetor, suas pernas tremiam e Morgana queria começar a chorar de novo, um ano, ela pensava, um ano é muita coisa. Parou por um
momento e se virou com lágrimas nos olhos quando escutou o ranger do metal, os
portões estavam se fechando atrás dela, ao se virar conseguiu ver por um breve
momento sua mãe, que enxugava as lágrimas do outro lado do monstro de metal.
Em meio às árvores Morgana sentou e chorou, ela
ficou ali parada, ainda era possível ver os portões, mas a partir de agora ela
não estava mais autorizada a chegar perto ou estaria descumprindo mais uma
ordem do governo, há essa hora seu nome e foto já estariam nos documentos do
governo como exilada e se tentasse chegar perto de outra colônia, ela poderia
ser executada.
A noite era bem pior, Pandemônio tinha barulhos
horríveis e Morgana não conseguiu dormir, tinha medo que algo a atacasse. Ela
subiu em uma das árvores e ficou sentada olhando para baixo. Em um momento, viu
um rato cogumelo selvagem chegar perto de uma planta, ela tinha uma cor
florescente que atraia a atenção, quando o rato cogumelo chegou perto o
suficiente Morgana viu a planta dar o bote e engolir o animal inteiro. Ela
estava no máximo a um quilometro de distância dos portões de Runesfera que era
a distância mínima permitida, ela começou a revistar a bolsa, por que, por mais
que sua mãe tivesse colocado comida e água a bolsa estava muito pesada.
Ela apalpou a parte de baixo da bolsa e não
conseguia acreditar no que sentiu, abriu a bolsa e foi afastando as coisas até
ver um pequeno zíper, ao abrir, viu vários de seus cubos de estudo e mais uma
vez agradeceu por ter uma mãe tão carinhosa. Pegou um dos cubos o abriu e
começou a ler.
Era um mapa de toda a Nova Terra e lá estavam
descritas todas as colônias sua posição no mapa a melhor rota de onde ela
estava.
Ao sul, saindo de Runesfera, indo pela rota de voo
encontra-se a colônia de Pajem, a sudoeste se encontra a colônia de Mistia, a
oeste a colônia de Juno que é a capital das colônias, e um pouco ao norte, a
colônia de Sorim. É muito fácil visitar outras colônias, mesmo não sendo a
capital que tem acesso a todas as outras nove colônias, Runesfera fica perto de
tudo. Ela sabia que não poderia se aproximar de outras colônias, então qualquer
que fosse o caminho que seguisse, aquele mapa seria importante para não acabar
morrendo por engano. Continuou vendo os mapas e lá também tinham um mapa da
parte interna de cada colônia, ela sempre mostrava esses mapas para seus alunos
a fim de mostrar as diferenças de cada colônia e como muitas arquiteturas se
assemelhavam ou referenciavam as do “antigo mundo”.
Morgana desligou aquele cubo e pegou outro.
O título era: A História dos Sete Fundadores
Depois
da Guerra da Evolução, a Terra sofreu muito, mais de 70% da humanidade foi
dizimada com bombas nucleares e o que sobrou teve que reinventar o método de
vida.
Os “antigos humanos”
se dividiram em colônias e ficaram reclusos durante muito tempo; os antigos,
como eram chamados, começaram a trabalhar e reconstruir seu mundo, e por muitos
anos isso deu certo até os primeiros “novos humanos”, ou conjuradores
despertarem.
Esses
“novos humanos” demostraram poderes incríveis como mover as coisas com a mente
fazer surgir coisas do nada e ate conjurar elementos da natureza. Outras
guerras menores se sucederam, mais uma vez os humanos se dividiram e aqueles
que não possuíam magia ficaram contra os que a possuíam e assim, mais mortes
aconteceram até que dentro desses “Novos humanos”, sete deles se destacaram aos
demais e fundaram o novo modo de vida colonial. O que não foi fácil.
Eles
tomaram o poder e criaram sua própria colônia, a primeira a ser construída no
marco zero da Nova Terra foi Juno e durante muito tempo os conjuradores viveram
lá, os humanos ditos normais que não quiseram viver dentro das instalações
arrumaram outro modo de vida e durante muito tempo os sete conjuradores tomaram
conta da paz que foi instaurada nessa colônia, transformando-se assim nos Sete
Fundadores da Nova Terra.
Eles
eram Dominic Dela Cruz, Imani Kamara, Ayo Tellei, Tarik Alaqui, Felipe Henriques,
Alice Marinho e Shui Wang. Juntos eles fundaram todas as Dez Colônias e a
protegeram até o fim de seus dias, mas ninguém previa o que estava por vir, muito
tempo se passou e as fadas apareceram, os Fundadores se reuniram mais uma vez e
foram à caça das fadas até que encontraram Megaira, uma fada muito poderosa que
quase acabou com as reservas mágicas dos Fundadores.
Depois
de doze dias de batalha, eles finalmente conseguiram derrotar a fada rainha,
mas não acabaram com todas, pois era impossível, com isso em mente vendo que o
povo estaria em desvantagem, eles fortificaram os campos de força das colônias,
agora além de proteger os conjuradores do ar contaminado por radiação
proveniente da Grande Guerra da Evolução, os campos também eram fortes o
bastante para proteger das fadas.
Anos após a batalha contra
Megaira, seis dos sete fundadores desapareceram misteriosamente e o que sobrou saiu em busca de seus colegas e nunca
mais foi visto.
Depois
de uma semana de exilio, Morgana decidiu sair de seu lugar e procurar algo mais
algo mais confortável que um tronco de árvore seco e plantas carnívoras. Uma
das coisas que sua mãe havia colocado dentro da bolsa, era um cantil com água
potável o que fez Morgana chorar de alegria, mas essa agua estava acabando e
ela tinha duas opções: morrer de sede, ou beber a agua contaminada que
encontraria na floresta e morrer por complicações devido a radiação que ainda
teria na agua.
Escolheu a segunda opção, afinal já estava
contaminada por respirar o ar fora da colônia e sem os filtros, tudo o que ela
respirava era tóxico. Parando para pensar nisso, ela percebeu que o ar de Pandemônio
era diferente, ela imaginava que o ar seria irrespirável e mal conseguiria manter-se
em pé por causa disso, mas ao contrário do que pensou, o ar parecia... limpo, talvez limpo não seja a palavra certa pensou
ela, mas com certeza era diferente.
Morgana começou a andar, andou o que para ela
parecia horas ate que não aguentou mais e sentou em uma pedra, abriu sua bolsa
e viu o que tinha sobrado.
– Mesmo racionando, minha alimentação acabou muito
rápido.
Dentro da bolsa tinha apenas um pedaço de pão e
queijo ambos duros, Morgana deu dentadas no queijo e literalmente roeu o pão e
bebeu o resto da agua que tinha no cantil. – Estarei em graves problemas mais
tarde se não encontrar qualquer coisa para comer ou beber.
Depois de descansar um pouco ela retomou seu
caminho, tudo ali era muito igual, para qualquer lugar que olhasse só via
arvores, musgo e animais pequenos, nada com que se preocupar.
À medida que o dia foi se passando a fome de
Morgana só aumentava, ela não se atrevia a pegara nenhum fruto de qualquer que
fosse a arvore, ela não era uma cientista e sim um conjuradora de ensino e
qualquer coisa errada que pudesse comer poderia lhe causar grandes estragos,
até a morte.
Morgana olhou para o céu, estava em uma aquarela
quente de cores, vermelho e laranja com o amarelo do sol, o pôr do sol era
sempre bonito dentro de Runesfera, mas ali fora tinha algo a mais que ela não
sabia explicar o quê, mas gostava.
Morgana foi olhando ao redor, a mata era densa e
assustadora, mas ganhou um colorido magnifico com o pôr do sol, até que uma árvore
em especial lhe chamou a atenção, era uma árvore grande e estava cheia de
frutos, e eram belos frutos, vermelhos da cor do sangue estavam pendurados nos
galhos, quando chegou mais perto viu. – São maçãs! – Exclamou sorrindo, Morgana
se sentia uma criança quando recebe o presente que pediu na comemoração de seu
nascimento, ela pegou um galho que estava perto e começou a bater nas maçãs
para que caíssem, quando recolheu o suficiente, ela ouviu um grunhido que vinha
de algum lugar ao seu redor.
- Socorro! – Exclamava uma voz rouca vinda de
dentro da mata mais densa.
Morgana parou “Alguém
precisa de ajuda”. Parando para pensar em seu próprio pensamento ela se deu
conta de que talvez, ela não fosse a única conjuradora na floresta. “Tem mais alguém aqui e está em perigo, eu preciso ajudar”.
Ela começou a andar devagar – Socorro! – exclamou a
voz novamente, era uma suplica dolorida, dava para perceber o medo que vinha na
voz, o sol já não brilhava tanto na floresta e ela precisava prestar bastante
atenção aonde ia. Morgana começou a andar mais rápido em direção a voz, talvez
a pessoa estivesse sendo atacada, ou foi ferida e estava prestes a morrer,
Morgana precisava ajudar.
- Socorro!!! – O grito estridente estava a poucos
metros de distância a frente, Morgana já se preparava, estava fraca e sua
reserva mágica não seria de grande ajuda, mas pelo menos poderia tentar curar
ou espantar o predador.
Morgana paralisou. Do meio das árvores apareceu
uma fada, ela tinha o corpo parecido com o de um tamanduá pantera, mas a cabeça
era humana, por alguns minutos Morgana ficou olhando para o bicho, seu corpo
era musculoso e seu pelo negro reluzia a pouca luz que entrava na floresta, os
olhos eram como duas bolas de fogo.
- Socorro!! – Gritou a fada.
Morgana então entendeu que não era um pedido de
socorro real, aquela era uma “Lamentadora”.
Lamentadoras, são fadas que tem a capacidade de imitar o discurso e usá-lo para a caça, caso peguem conjuradores, ela imitarão os gritos de sua presa pedindo por ajuda, e Morgana caiu na armadilha.
Naquele momento Morgana não sabia o que fazer foi quando uma ideia maluca lhe passou pela cabeça, ela colocou fogo no galho que estava segurando e jogou no animal, a fada rugiu.
Morgana começou a correr por entre as arvores com
a fada em seu encalço, a fada pulava de tronco em tronco, por um momento
Morgana sentiu a pata de o animal raspar em sua cabeça, mas ela não ousava
olhar para trás e continuou correndo, a fada rugia de fúria, “Socorro!
socorro!” foi quando Morgana pisou em falso e o chão cedeu, ela começou
a cair por um desfiladeiro.
Ao chegar lá embaixo à primeira coisa que lembrou
foi da fada, mas ela não estava mais a vista, pelo tamanho da queda, a fada
deve ter desistido da presa, depois veio um pensamento súbito. – Eu estou na água – Já que não iria
morrer virando comida de fada, com certeza iria morrer por conta do veneno da
água.
Morgana esperou, mas nada aconteceu, a história de
que a água estava envenenada e virou ácido estava totalmente falsa, e a partir
dai Morgana sorriu mais uma vez, encontrou maçãs e água potável para poder
beber.
Morgana encheu seu cantil e o colocou na bolsa junto com as maçãs, tirou a roupa e tomou um banho. Ela percebeu que Pandemônio poderia sim ser amedrontadora, mas ao mesmo tempo era linda, Morgana estava em uma clareira, tinham árvores rodeando todo o local e várias delas tinham frutas que Morgana reconhecia, tinha um lindo lago com água potável e no meio das árvores tinha o que há muito tempo havia sido uma habitação. Agradecida aos céus por providenciar isso, Morgana foi em direção à habitação, pelo menos naquela noite, ela teria onde dormir.
Capitulo 2 - Morgana caçada
Morgana acordou revitalizada, estava renovada e
dormiu como não dormia desde seu encontro com a fada dentro dos muros de
Runesfera, ela estava disposta e seu humor estava bom, mesmo para quem acabou
fugindo de uma fada Lamentadora e quase morreu no processo.
Ela levantou, tomou banho no lago que havia no
centro da clareira e foi colher algumas frutas, foi quando ela viu a cena mais
bela que Pandemônio poderia lhe proporcionar. Vários papagaios-pavão levantaram
voo por sobre a clareira, a visão era bela, os raios de sol batiam nas caudas
multicoloridas dos animais criando fachos de luz azuis e roxos, em toda a sua
vida na colônia, nunca tinha presenciado cena mais bela. O dia seria bom.
Mesmo querendo fazer dali a sua morada, ela sabia
que não poderia ficar por muito mais tempo, a fada da noite anterior poderia
voltar e como ela bem sabia Lamentadoras podem andar em bandos se a caçada
valer a pena e isso era uma coisa que ela não queria pagar para ver. Ao longo
do dia Morgana se preparava para deixar aquele local magnifico, lavou sua roupa
juntou todas as coisas que sua mãe separara para ela e começou a ler um de seus
cubos de leitura.
O cubo contava a história de um garoto que queria
ver o mar, era uma aventura juvenil que acaba em desgraça, depois de passar por
várias aventuras na floresta o menino consegui chegar a Merilis, mas ao entrar
na água, ele percebeu como a água estava envenenada, por causa da grande guerra
da evolução e teve uma morte horrível enquanto via sua pele desprender de seu
corpo ainda consciente, até ser levado pelas ondes e desaparecer.
Era uma típica história para colocar medo nas
crianças, e alguns adultos, e fazer com que todos percebessem que dentro das
colônias era o mais seguro. Depois de ler essa história, um pensamento passou
por sua cabeça, e se ela fosse ver o mar? Se a água daquela clareira já estava
boa para consumo e com certeza não estava envenenada, o mar, depois de tanto
tempo, poderia também estar limpo e se ela conseguisse provar isso, seria não
apenas recebida, mas reconhecida por toda a Runesfera. Os conjuradores de
Portal de Jade conseguiriam se banhar em águas marinhas de verdade.
Morgana estava aconchegada em um monte de folhas
que havia coletado para construir a sua cama, estava debaixo do que há muito
seria uma habitação dos antigos humanos e começou a pensar em como era a
cultura deles e como eles se comportavam, sua mente vagou até chegar em sua
família.
Morgana se lembrou de quando era criança e sua mãe
contava várias histórias, para ela e sua irmã, de um belíssimo mundo, onde as
águas do mar eram puras e serviam de morada para seres míticos, claro que ela
entendia que era apenas uma história, pois ninguém conseguiria respirar debaixo
d’agua sem ajuda de magia. Ela se agarrou no pensamento de que a água do mar
estaria limpa o suficiente para que todos usufruíssem, e mais, caso quisessem
as pessoas poderiam sair de suas colônias natais e desbravar o mundo mais uma
vez como os antigos humanos fizeram um dia.
Morgana rapidamente deixou o pensamento de lado,
esse tipo de pensamento poderia ser visto como traição ao governo e ela já
tinha sido punida o suficiente por crimes que ela nem cometeu.
Esse mesmo pensamento de traição lhe trouxe a
saudade, mesmo que seu convívio com seu pai não fosse um dos melhores, Morgana
sentia sua falta, ela entendia que por ser Primeiro Ministro ele tinha que ser
mais duro com todos, pois cargos elevados necessitavam de uma postura mais
austera. Morgana também se lembrou da sua irmã, nesse momento essa sabia que a
solidão traz a nostalgia das coisas mais incomuns, ela sentiu saudades de
Úrsula, lembrou de quando as duas eram crianças:
Estavam sentadas embaixo do cobertor cochichando e
rindo das piadas mais bobas, quando a porta de quarto abriu elas ficaram
quietas por um momento.
- Eu sei que estão acordadas – disse sua mãe
ligando a luz e puxando a coberta que as escondia.
Morgana e Úrsula irromperam em risos ao ver a cara
de graça que a mãe estava fazendo com meio sorriso e as mãos na cintura numa
pose que não assustaria nem um rato-cogumelo.
- Deitem-se agora e durmam se não fizer a fada da
madrugada irá entrar e levar vocês para a floresta.
Sua mãe... Ao se lembrar de sua mãe e como ela foi
corajosa, vivendo apenas para criá-las; Morgana sabia que sua mãe tinha
recusado um bom trabalho como cientista na base de clima das colônias apenas
para viver como dona de casa, sentia todo o amor que ela lhe dera ao longo dos
anos e isso fez Morgana lembrar que tinha falhado como filha. Seus olhos
arderam e mais uma vez ela se viu olhando para o infinito céu de pandemônio,
sabia que tinha desonrado sua família quando foi exilada e não sabia como
olharia de novo para sua mãe, e nem como pediria perdão por tudo isso quando
voltasse para Runesfera, isso, se ela voltasse.
A noite estava fria e ela não conseguia dormir
direito, em dado momento ela soltou “Queria
a minha mãe”, Morgana chorou até pegar no sono, o tempo não era importante
em pandemônio, portanto ela não sabia dizer que horas ela foi dormir.
- Socorro! – Morgana foi arrancada de seu sono. –
Socorro!
A voz rasgada da fada parecia mais desesperada do
que nunca, Morgana levantou tentando fazer o mínimo de barulho possível e foi
ver onde a fada estava.
A Lamentadora caminhou por dentro da água e foi em
direção a árvore de maçãs, farejou e depois arranhou o local; “Ela está demarcando o lugar por onde eu
passei” – pensou – “Ela está me
rastreando”.
Morgana sabia que não podia ficar nem mais um dia
naquele local, mas também, não poderia sair agora se não isso poderia causar a
sua ruína. Então esperou. Os pedidos de socorro estavam cada vez mais imediatos,
a Lamentadora dava voltas pela clareira e por mais de uma vez chegou perto de
onde Morgana estava, cada vez que a fada chegava perto, Morgana prendia a
respiração, a luz da lua fazia os olhos da fada brilhar como duas bolas de
fogo.
- Socorro! – Morgana abraçou seus joelhos e tentou
não pensar no mostro que estava lá fora, sabia que a fada que tinha entrado na colônia
não chegava nem perto da força e habilidade da besta que estava ali. Sem
perceber, dormiu.
Quando acordou, os únicos sinais da fada eram as
marcas que ela havia deixado nas árvores, o sol já tinha chegado e ela decidiu
que sairia daquele local, naquele dia.
Arrumou as poucas coisas que tinha, frutas e água
potável, além dos cubos que estavam espalhados no chão onde ela dormiu. Quando
terminou subiu o morro e olhou mais uma vez para a clareira, que por poucos
dias tinha lhe servido como lar, mas agora sua meta, graças á uma história
infantil, era seguir ao sul para ver o mar, o verdadeiro mar.
***
Morgana estava andando a quase duas semanas
parando esporadicamente para dormir, mas sua experiência com a Lamentadora a
fez ficar mais esperta, ela dormia em troncos de arvores ou coberta por folhas
e musgos. Uma coisa que aprendeu rápido, foi que, para se manter viva, ela
teria que se manter em movimento, parava o mínimo possível e só realmente
levantava acampamento depois que anoitecia, usava toda a luz do sol para
caminhar até não aguentar mais.
Capitulo 3 - A Lamentadora
Era muito difícil andar pela floresta, como ela
nunca foi desbravada, não tinha trilha para seguir, sabia que estava perdida,
mas continuou andando, em poucos momentos ela via a rota de surf, mas como não
siba onde estava não imaginava em qual colônia iria para e como estava exilada
era perigoso chegar perto. A lua já estava alta no céu e Morgana estava
cansada, ela viu no alto de um morro as ruinas de uma antiga cidade e resolveu
procurar abrigo. Ela entrou numa habitação e viu que lá existia tecido, viu
cortinas velas e lençóis e com sua conjuração de moldagem criou um saco de
dormir para si.
Ela saiu para procurar por gravetos e assim montar
uma fogueira para se aquecer a noite, pois ao raiar do dia, ela se colocaria a
caminho novamente. Mal chegou ao vão de entrada da habitação, na porta de
entrada ela se deparou com os olhos brilhantes, seu coração parou por um
momento, a lamentadora que já a estava perseguindo por muito tempo, estava ali
de pé em frete à porta de entrada, olhando fixamente para Morgana, os olhos da
fada estavam em brasa.
Morgana achava que tinha despistado aquela coisa,
mas ao que parecia a fada tinha decidido que Morgana era uma boa presa pelo nível
de dificuldade.
- Socorro! – a fada grunhiu com saliva pingando de
seus dentes.
Morgana conjurou um campo de força e se colocou
nele, a fada pulou em cima de Morgana, empurrando seu campo de proteção e
fazendo-a bater nas paredes desgovernada. A cauda da fada estava em pé e ela se
prostrou em ataque novamente.
Morgana expandiu seu campo de força de modo a
criar uma parede entre ela e a fada, a fada gritava, rugia e arranhava a parede
magica, Morgana sabia que não ia durar muito tempo estava muito cansada,
conseguiu recolher suas coisas e colocou o saco de dormir dentro da bolsa de
forma desesperada, a fada bateu com o corpo contra a parede e o teto ameaçou
desabar, Morgana saiu correndo na esperança de haver uma saia nos fundos da
habitação e na cozinha realmente havia outra porta, ao chegar ali ela escutou
um barulho que se assemelhava a vidro quebrando e viu sua parede ruir e cair,
mas antes que a fada começasse a correr em seu encontro ela apontou sua mão
para a viga de sustentação e lançou uma bola de fogo fazendo o teto da
habitação cair.
Na parte de trás daquilo que um dia tinha sido uma
habitação ela viu mata densa e um grande carvalho caído, ela passou deu dois
passos em direção à mata quando escutou a fada gritar “Socorro!” ela se virou
para trás com os olhos arregalados e viu a fada emergir dos escombros, ela
correu e se arrastou por baixo do tronco do carvalho caído, ao se levantar viu
que a fada estava em cima do tronco, andando de um lado para o outro,
possivelmente analisando sua presa, a cabeça semi-humana da fada estava
sangrando e ela estava com uma de suas patas machucada, mas isso não impediria
de atacar mais uma vez.
Morgana tentou se afastar devagar, mas tropeçou
num galho grosso e no desespero acabou caindo sentada. Esse foi o momento que a
fada esperava e ela pulou. Morgana por puro instinto levantou o galho contra a
fada e fechou os olhos. Quando abriu viu a fada se contorcendo a meio metro de
seu rosto, o galho havia atravessado o peito do monstro que agonizava em um
grito de socorro molhado, como se estivesse se afogando no próprio sangue, até
que parou.
Morgana soltou o galho de lado e sentiu todo o seu
corpo tremer, a adrenalina havia passado. Morgana ficou olhando por um tempo
para o monstro, certificando-se que ele realmente morrera, em menos de três
meses Morgana conseguiu matar duas fadas.
Capitulo 4 - O universo em um animal
O sol nem havia surgido ainda e Morgana já estava
andando, ainda estava em pleno êxtase pela batalha travada na noite anterior.
Quando finalmente a copa das árvores clareou, Morgana estava na entrada de
outra cidade antiga, ela entrou devagar olhando para todos os lados,
aparentemente todas as “cidades antigas” o estavam completamente abandonadas,
ou eram ninhos de fadas ou dos animais da região.
De todas as cidades que passou aquela estava em
melhores condições, provavelmente aquela cidade não foi atingida pelas bombas
da grande guerra da evolução. Morgana arrombou uma porta e entrou, tudo tinha
cheiro de mofo e plantas, a poeira densa, dançava no ar, era o lugar perfeito
para fazer de sua moradia temporária, colocou sua bolsa em cima da mesa e saiu
novamente à procura de alimento e madeira para fazer tochas e fogueira para a
noite que estava começando a ficar mais frias.
Ao andar pela cidade devastada, pensamentos
invadiram a mente da conjuradora. Por que o governo não informou a população
que a o ar e a água já estavam boas para consumo? Por que não criar uma divisão
com os melhores protetores para torná-los caçadores e equilibrar o convívio com
as fadas?
Ela sabia que tais pensamentos dentro da colônia
poderiam ser vistos como traição ao governo e como não tinha com quem dividir
esses pensamentos, entendeu que esse não era o melhor para isso. Morgana
continuou andando e viu restos de habitações acabadas paredes caídas e grandes
prédios tomados pela floresta, os meios de transporte daquela época se
espalhavam por toda a extensão da antiga cidade, era uma beleza assustadora, ao
ver que estava realmente sozinha Morgana percebeu que era bem mais triste estar
em um lugar onde não poderia conversar ou mesmo ver outros conjuradores.
Morgana parou em um banco que estava coberto de
musgo e pela primeira vez em muito tempo se entregou as lágrimas, agora que a
adrenalina dos dias tinha passado, ela começou a entender sua real situação,
estava exilada, não tinha mais moradia, emprego, amigos e família. Quase foi
morta diversas vezes e estava perdida e tudo o que lhe restara para lhe dar
forças era uma bolsa e alguns livros-cubo.
Muito tempo se passou com ela sentada, o clima
estava mudando, as lágrimas já estavam secas em seu rosto enquanto ela estava
imersa em seus próprios pensamentos, ela percebeu uma luz vinda do meio das
árvores e mesmo sabendo que poderia ser muito perigoso, isso atiçou a sua
curiosidade. Ela andou em passos lentos e calculados, qualquer barulho poderia
entregar a sua localização e em Pandemônio isso era a mesma coisa que uma sentença
de morte. Morgana encostou as costas na parede, na rua lateral, o foco de luz
era maior, ela deu uma olhada de relance, mas só viu o foco de luz e percebeu
que ele se distanciava cada vez mais, a conjuradora seguiu o brilho até que ele
passou por um facho claro de luz e Morgana pode ver do que se tratava.
Era uma espécie de animal, era todo coberto com
pelos, tinha o focinho de um urso ornitorrinco, mas sem o bico achatado, o rabo
era curto e peludo, Morgana percebeu que em pé ele deveria ter uns dois metros
de altura, mas não parecia ser uma fada, muito menos um dos animais que foram
catalogados pelo Centro de Pesquisa Ambiental, mas mesmo assim era a criatura
mais linda que Morgana já tinha visto, ele parecia, completo, e ao olhar com
mais atenção Morgana percebeu duas coisas, a primeira é que aquele lindo animal
tinha um filhote que andava ao seu lado pulando e brincando e a segunda e a
mais importante o corpo dos dois animais era coberto por um “universo” próprio
que dançava por seus corpos, Morgana pôde ver estrelas, constelações e buracos
negros e até pequenas explosões cósmicas e percebeu que era aquilo que fazia os
corpos brilharem, era lindo de se ver.
Morgana seguia o animal de longe e viu quando ele
se teleportou mais para frente, apertando o passo ela tentou segui-lo, quando
ela o viu entrar num antigo prédio abandonado. Morgana não pensou duas vezes,
afinal ela era educadora e curiosidade era um de seus méritos, ela entrou no
prédio e seguiu o animal.
Ao entrar no prédio Morgana logo viu que as
instalações não eram propicias a entrada da luz do sol e o pouco de luz que
entrava era vinda dos buracos do tato feitos pelo tempo. Morgana continuou
andando e percebeu que tipo de prédio era aquele, na época em que a humanidade
era guiada pelo capitalismo, prédios como aqueles eram comuns em todas as sociedades,
eles eram projetado a não entrar nenhuma luz externa tendo apenas a
eletricidade para deixar tudo claro, assim quando os humanos entravam, era
difícil saber quanto tempo estavam lá dentro e podiam gastar mais. Morgana não
entendia como a humanidade deixava ser enganada daquela forma, mas quando parou
para pensar sobre o assunto, se a teoria dela estivesse certa, não era muito
diferente do que o governo estava fazendo agora com os conjuradores.
Morgana continuou andando, sem ver muita coisa,
mas mesmo com a pouca luz, ela viu que as lojas estavam destruídas, portas de
vidro quebradas e havia musgo, plantas e poças de agua por todo lugar.
“Quando não houver mais nada na Terra, ainda
haverá a floresta” – falou Morgana para si mesma.
O pensamento de Morgana foi interrompido por um
clarão, ela sabia que era o estranho animal e foi até o foco de luz, tomando o
máximo de cuidado para não assustar o animal, teve que controlar o grito quando
vários ratos-cogumelo passaram correndo entre seus pés.
Morgana viu o foco de luz se afastar rapidamente
mais uma vez e teve uma ideia, que mais tarde considerou mais estupida do que
jogar um graveto em chamas numa fada, ela se concentrou o conjurou o campo de
força em volta do filhote do animal, assim ganharia algum tempo. O animal maior
se virou para trás e rugiu para Morgana, ela percebeu que sua cabeça caberia
perfeitamente dentro da boca do animal, ele se voltou e começou a dar patadas
no campo de força, de dentro do campo de força o filhote guinchou e Morgana pode
perceber que quem era o detentor da magia era o filhote, os dois teleportaram
novamente, agora tudo o que poderia fazer era continuar procurando por eles
novamente.
Morgana começou a andar pelo prédio e começou a
escutar estalos e rugidos vindos de algum lugar, o prédio era grande, ela
encontrou um lance de escadas de metal que levavam a parte superior do prédio e
decidiu subir.
Morgana olhou atentamente para o lugar e percebeu
que ele tinha vários andares e por todos os lados tinham lojas com paredes de
vidro e varias prateleiras, em um momento Morgana se assustou quando viu a
sombra de um conjurador, mas quando chegou perto viu que era uma replica feita
de plástico, riu de sua própria inocência e continuou andando, no andar onde
estava ela viu uma loja que estava semifechada com uma porta de correr feita de
metal os barulhos lá dentro eram constantes, mas nenhum brilho vinha de lá, ela
levantou uma mão, deixando-a em forma de garra na altura do peito;
- Que a chama que em mim habita, possa iluminar o
meu caminho.
Uma pequena chama apareceu flutuando na palma de
sua mão e ela usou para iluminar o caminho e seguiu em frente, o coração dela
batia tão forte que doía, mas ela continuou pelo caminho e viu uma bagunça de
máquinas, mesas, cadeiras e plantas por todos os lugares, já em frente à porta
ela segurou com a mão que estava livre e a subiu ruidosamente.
Ao entrar no cômodo ela sentiu um formigamento que
foi dos ombros até os calcanhares, não conseguia distinguir o que via, ela
queria que fosse qualquer coisa, mas o que ela viu foram ninhos de fada, ali
naquele cômodo haviam vários ninhos, com as fadas aninhadas nele, dormindo, ao
que parecia.
Eram fadas estranhas e totalmente diferentes das
que tinha encontrado em Runesfera e em seus primeiros dias na floresta, essas
fadas tinham o dorso humano com braços e cabeça também humanas, mas o abdômen
era igual às de uma aranha serpente. Eram Aracnes; Fadas que se assemelham ao
conjurador da cintura pra cima e uma aranha da cintura para baixo, com uma
cauda que começa na coluna. Num impulso controlado pelo medo, Morgana só pensou
em uma coisa, destruir aquele ninho, aumentou a intensidade do fogo e o jogou
em direção às fadas, o fogo pegou rápido e um clarão laranja tomou todo o
espaço do lugar, mas dessa vez, ela não ficou para ver se as fadas tinham
morrido, deu meia volta e começou a correr tropeçando e derrubando tudo o que
via pela frente, a conjuradora nem teve tempo de se sentir aliviada, pois logo
que começou a correr escutou os gritos das fadas e a correria que se sucedeu
logo após a sua fuga, Morgana saiu correndo por um dos corredores e acabou se
perdendo, ela ouvia as fadas se aproximando e o terror começava a tomar conta
de sua mente, tentou manter a calma para não piorar as coisas e no meio da
correria caiu, no chão, ela olhou para trás e seu temor se tornou realidade, as
fadas tinham-na visto e vinham em sua direção, Morgana se levantou e começou a
correr, dobrou no primeiro corredor que viu e ouviu os clacks que as patas das
fadas faziam no chão, dobrou mais uma vez no corredor seguinte e mais uma vez,
foi quando se deu conta que havia dado uma volta em todo o perímetro, por um
lado ela ficou aliviada, pois conseguia ver novamente a escada de metal que
dava para as portas de entrada, iria sobreviver.
Quando chegou a menos de cinco metros da escada
ela tropeçou em alguma coisa que começou a se debater, uma das fadas estava
caída com as pernas para cima e tentava se levantar, dessa vez não teve como
segurar e gritou de terror, isso alertou ainda mais as fadas que vieram
correndo mais rápido subindo por cima das coisas e pulando uma sobre as outras,
provavelmente o jantar estava para ser servido. Ela tentou passar por cima da
fada caída, mas a cauda da fada enroscou em sua perna fazendo com que ela fosse
ao chão novamente, ela começou a rastejar em direção a escada, a fada tentava
agarrar seu corpo de todas as formas, ela socava o monstro enquanto tentava se
desvencilhar, a cauda apertava sua panturrilha, ela tateou pelo chão e encontrou
um caco de vidro, afundou ele na cauda da fada, quando sentiu que sua perna
estava livre, ela se empurrou e rolou escada abaixo antes que a horda de fadas
a alcançasse.
Bateu as costas com muita força no chão do
primeiro andar, levantou sem dar muita importância à dor e começou a correr
novamente. Morgana já conseguia ver a luz que vinha das portas de entrada,
atravessou correndo e ficou cega com a luz repentina. Estava cansada e com
medo, mas com a claridade do dia e um espaço maior ela até se dava o direito de
ter esperanças de se salvar quando sentiu algo prender sua perna e caiu para frente
batendo a cabeça no chão, tudo ao seu redor começou a zumbir, ela olhou para
sua perna achando que uma das fadas a tinha alcançado, mas viu que era uma espécie
de corda viscosa que estava enrolada em sua canela, Morgana tentou tirar, mas
mesmo viscosa era resistente e ela não conseguia fazer nada. Morgana sentiu a
primeira puxada, mirou em direção ao prédio para ver o quão longe às fadas
ainda estavam e percebeu que elas não saiam da parte escura do prédio,
possivelmente elas eram vulneráveis ao sol ou ao calor. Morgana sentiu seu
corpo ser arrastado novamente, tentou prestar atenção para ver o que a estava
puxando, era uma fada grande, com as pernas de uma serpente aranha, mas o dorso
era de um humano, um homem para ser mais especifico, mais um puxão, e a cada
puxada que a fada dava Morgana conseguia sentir o gosto da bílis na boca,
misturado com sangue, terra e restos de plantas, a “corda” começou a apertar mais
a sua canela e entrou na carne, Morgana gritou de dor e sentiu o sangue
escorrer, começou a chorar, queria desistir e deixar-se morrer, acabar com o
desespero, de algum modo sabia que estava perdida.
Eu
vou morrer agora – pensou Morgana, mas algo em sua
alma não queria deixa-la desistir, foi quando Morgana arrumou as ideias tentou
acalmar seu coração.
- Que a chama que em mim habita, possa destruir os
obstáculos no meu caminho.
Sua mão entrou em combustão, mas ela não se
queimou uma coisa boa para quem nasceu com o dom do fogo. Os conjuradores
nasciam com dons especiais, no caso de Morgana o dom do fogo, mas o governo só
permitia fazer magias de acordo com a sua ocupação na sociedade, todos aqueles
que decidiam ir para a colônia de Runesfera, iria contribuir com o
desenvolvimento arcano das colônias ensinando os novos conjuradores e mantendo
a escrita da história, um livro sagrado que contém a história da humanidade
desde a fundação de Juno, qualquer outro tipo de magia que não ajudasse com os
seus deveres dentro das colônias, não era permitido.
Morgana sentiu um novo puxão e sua perna doeu mais
ainda, ela se sentou para ver como estava o ferimento, ela encostou a mão na
perna e gritou de dor quando realmente sentiu seu corpo queimar, o fogo saiu
consumindo a corda até chegar onde as fadas estavam, a fada gritou no sombrio
prédio onde estava escondida, Morgana se levantou e saiu correndo e mancando de
volta para seu esconderijo. A perna de Morgana latejava e ela não conseguia
correr direito e a cada passo que dava um rastro de sangue demarcava seu lugar,
mesmo mancando Morgana sabia que estava segura das fadas e a casa que encontrou
poderia ser um bom lugar para se esconder e se curar, com o dom do fogo, a cura
seria uma coisa difícil de fazer e demoraria alguns dias.
– Bem que eu podia ter nascido com o dom da cura –
falou Morgana consigo mesma.
Morgana continuou andando, mas em dado momento
entrou na rua errada e ficou desorientada em como voltar para o seu
esconderijo, precisava se apressar, pois em poucas horas iria escurecer e ela
poderia ter problemas.
No meio do caminho havia um transporte dos antigos
humanos que estava coberto com galhos secos, na frente do velho transporte
Morgana viu dois Vultorses brigando.
Vultorse é um animal híbrido com o corpo de cavalo
e cabeça de abutre. Andando mais um pouco em direção a cena Morgana pode ver o
motivo da briga, dentro do ninho estava um filhote, ele estava deitado e
respirava ofegante vez ou outra dava um pio, mas muito baixo, como uma
conjuradora de ensino, Morgana ensinava aos jovens a respeitar e amar todos os
animais e aquela cena era desoladora, Morgana conseguia perceber a dor e do
desespero da mamãe Vultorse em defender seu filhote de um alfa apenas para
aumentar seu poder territorial, os animais se empinaram ficando em pé nas patas
traseiras, o macho bicou a fêmea e ela desequilibrou, o macho virou de costas e
coiceou as costelas da mãe que piou de dor. Morgana não podia ver mais aquilo e
resolveu ajudar, por um momento ela esqueceu a dor que sentia na perna e se
concentrou ao máximo em um novo campo de força.
O cristal cresceu em volta do animal prendendo-o.
Morgana concentrou todo o seu poder e jogou o campo
de força para o alto com o animal dentro, a fêmea levantou-se com um pouco de
dificuldade e foi até o transporte que fez de ninho, piou baixinho e o filhote
levantou a cabeça, a fêmea deitou do lado de fora do transporte, enquanto o
filhote saía e ficava ao lado de sua mãe.
Morgana ficou feliz em intervir e olhando aquela
cena, lembrou de sua própria mãe, seu peito ficou apertado e a respiração
ofegante, Morgana se sentia sozinha, não podia contar consigo mesma e sua mãe
não estava ali para ajudar a passar por aquilo tudo e sentiu-se perdida.
O filhote piou mais alto, fazendo Morgana voltar
de seu devaneio, ela foi ate onde o filhote estava deitado, viu a mãe que não se
mexia, estava morta. Tentou da forma mais calma e gentil se aproximar do
filhote, mas ele, com medo, ficou instável e começou a piar alto, Morgana já
sem paciência e sem tempo, colocou o filhote dentro de uma bola de campo de
força e começou a andar com o filhote ao seu lado.
Chegando ao seu esconderijo Morgana colocou o
filhote na sala, ele já cansado por se debater o tempo inteiro, só aceitou seu
destino e se deitou onde o campo de força se desfez, ela colocou fogo em um
pedaço de madeira para clarear o ambiente.
A noite finalmente chegou e Morgana foi lembrada
mais uma vez como Pandemonium pode ser assustadora, durante toda a noite
Morgana ouviu os gritos das fadas que tinham encontrado durante o dia,
assustada, ela apagou a tocha improvisada e se concentrou em se curar e curar o
animal, era uma tarefa difícil, às vezes o processo de cura poderia ser
doloroso e Morgana tinha que fazer o animal ficar parado.
Ela parou de tentar quando percebeu que os gritos
das Aracnes estão se aproximando de seu esconderijo, apagou a tocha, tentou
deixar o filhote confortável e dormiu ao som dos grunhidos das fadas.
Na manhã seguinte Morgana pegou seu cubo e tentou
procurar alguma informação sobre essas fadas, mas não conseguiu muita coisa, no
cubo apenas tinha a informação básica dos monstros, então ela decidiu criar seu
próprio cubo de bestas, começou com informações sobre os primeiros animais que
encontrara na floresta, depois colocou informações detalhadas das lamentadoras
assim como a maneira que encontrou para derrota-la, na aba seguinte começou a
falar sobre as Aracnes, enquanto falava sua voz ia sendo convertida em texto e
fixada em seu cubo, que ela denominou como “Cubo do Exilio”, assim caso alguém na
posteridade passasse pelas mesmas coisas que ela, aquele cubo poderia ser de
grande ajuda. Depois disso ela continuou o processo de cura do animal, ela deu
algumas frutas para ele e continuou trabalhando, ele não estava muito ferido,
então com pouco tempo ele já estava bem.
Ela saiu de seu esconderijo quando o sol estava
alto, por todo lado tinham aquelas teias, ela não pensava mais no animal do
universo, pois sabia que estava novamente em perigo, ela começou a queimar o
maior numero de teias possível para que as aracnes se perdessem na sua busca,
mais uma vez Morgana estava sendo caçada por uma fada e ela sabia que se continuasse
em seu esconderijo, seria uma questão de tempo até que ela fosse encontrada. Morgana
parou em frente ao grande prédio e olhou lá dentro da parte escura ela pode ver
olhos prateados vindo de dentro da parte escura do prédio e não se atreveu a
entrar novamente, em seu intimo ela sabia que tinha que sair dali o mais rápido
possível. Voltou para casa.







